domingo, 12 de julho de 2015

OS ARGUMENTOS DE BLANCHARD




(O FMI responde a algumas críticas pela pena do seu ainda economista-chefe)

Enquanto pelas bandas de Bruxelas as coisas parecem de novo ao rubro no Eurogrupo com os finlandeses a chantagear a negociação que os franceses tentaram corajosamente fazer avançar, faz sentido ter em conta o texto que Olivier Blanchard, ainda economista-chefe do FMI, talvez não por muito tempo, publicou quer no blogue do FMI quer no VOX EU.

O texto é relevante pois Blanchard procura o mais honestamente possível contrapor algumas críticas que se têm manifestado quanto à abordagem da questão grega que o FMI tem direta ou indiretamente patrocinado.

A primeira crítica respeita à acusação que é feita ao programa de ajustamento de 2010 de ter aumentado o nível da dívida grega em relação ao PIB e ter promovido um ajustamento fiscal excessivo. Blanchard responde a esta crítica invocando sobretudo o nível descontrolado da dívida que o país apresentava imediatamente antes do ajustamento (300.000 milhões de euros e 130% do PIB). A defesa do ajustamento fiscal praticado é apresentada por Blanchard como o resultado de imposições de credores de então induzida pelo facto de um ajustamento fiscal mais lento exigir uma maior anulação de dívida à partida. A justificação não é desonesta, mas Blanchard procura retirar à instituição FMI o ónus de ter podido negociar com os credores um ajustamento mais proporcionado e lento. Não há qualquer explicação para o facto da situação ter então chegado onde chegou sem que a regulação europeia e internacional interviesse.

A segunda crítica prende-se com a acusação de que o bail-out serviu sobretudo para pagar aos bancos privados reduzindo a sua exposição. A argumentação de Blanchard parece aqui algo mais convincente. É um facto que dívida privada de curto prazo foi substituída por dívida oficial, mas um terço da mesma envolvia bancos e instituições públicas gregos. É também correto afirmar que a reestruturação de dívida de 2012, dois anos depois do programa, ter atingido em 50% o setor privado, conduzindo a uma redução da dívida de 100.000 milhões de euros. Não pode também ignorar-se que as condições de financiamento de que a economia grega dispôs foram mais favoráveis que as outras economias sob resgate. Tudo isto é verdade, mas não pode ignorar-se que mesmo com haircut a propriedade da dívida grega se alterou radicalmente.

A terceira crítica prende-se com a imposição de reformas penalizadoras do crescimento económico e austeridade demasiado recessiva. De novo aqui a posição de Blanchard não é de molde a cobrir adequadamente a posição do FMI. Reformas consideradas necessárias apesar do seu impacto negativo no crescimento e erros na apreciação dos multiplicadores da despesa são condições que condenavam à partida a economia grega a um não crescimento. Porquê então insistir nas mesmas? Simplesmente erro de avaliação, não eficazmente comunicado aos credores.

Finalmente, a quarta crítica de que os credores não terão aprendido com 2010. Esta questão é influenciada primeiro pela alteração da tipologia de credores, desta vez mais largamente dependente de opiniões públicas nacionais porque envolvem dívida e financiamento público. Em segundo lugar, porque a eleição do SYRIZA coloca na governação uma força política que não podia ser acusada de conivência com a não aplicação dos compromissos assumidos. E a partir daqui tudo se complica, porque todos os mafarricos de opinião pública nacional estão à solta, com forças políticas no poder ou a querer lá chegar cada vez menos interessadas em cedências a favor de uma estabilidade mínima da zona euro. O FMI procura distanciar-se chamando a atenção para a insustentabilidade da dívida atual, lavando daí as mãos mas dada a instabilidade das suas posições passadas a sua mensagem não parece muito convincente para os credores de agora. Mas que lio!

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