(O FMI responde a algumas críticas pela pena do
seu ainda economista-chefe)
Enquanto pelas bandas de Bruxelas as coisas parecem de novo ao rubro no
Eurogrupo com os finlandeses a chantagear a negociação que os franceses
tentaram corajosamente fazer avançar, faz sentido ter em conta o texto que
Olivier Blanchard, ainda economista-chefe do FMI, talvez não por muito tempo,
publicou quer no blogue do FMI quer no VOX EU.
O texto é relevante pois Blanchard procura o mais honestamente possível contrapor
algumas críticas que se têm manifestado quanto à abordagem da questão grega que
o FMI tem direta ou indiretamente patrocinado.
A primeira crítica respeita à acusação que é feita ao programa de
ajustamento de 2010 de ter aumentado o nível da dívida grega em relação ao PIB
e ter promovido um ajustamento fiscal excessivo. Blanchard responde a esta crítica
invocando sobretudo o nível descontrolado da dívida que o país apresentava
imediatamente antes do ajustamento (300.000 milhões de euros e 130% do PIB). A
defesa do ajustamento fiscal praticado é apresentada por Blanchard como o
resultado de imposições de credores de então induzida pelo facto de um
ajustamento fiscal mais lento exigir uma maior anulação de dívida à partida. A
justificação não é desonesta, mas Blanchard procura retirar à instituição FMI o
ónus de ter podido negociar com os credores um ajustamento mais proporcionado e
lento. Não há qualquer explicação para o facto da situação ter então chegado
onde chegou sem que a regulação europeia e internacional interviesse.
A segunda crítica prende-se com a acusação de que o bail-out serviu
sobretudo para pagar aos bancos privados reduzindo a sua exposição. A
argumentação de Blanchard parece aqui algo mais convincente. É um facto que dívida
privada de curto prazo foi substituída por dívida oficial, mas um terço da
mesma envolvia bancos e instituições públicas gregos. É também correto afirmar
que a reestruturação de dívida de 2012, dois anos depois do programa, ter
atingido em 50% o setor privado, conduzindo a uma redução da dívida de 100.000
milhões de euros. Não pode também ignorar-se que as condições de financiamento
de que a economia grega dispôs foram mais favoráveis que as outras economias
sob resgate. Tudo isto é verdade, mas não pode ignorar-se que mesmo com haircut a propriedade da dívida grega se
alterou radicalmente.
A terceira crítica prende-se com a imposição de reformas penalizadoras do
crescimento económico e austeridade demasiado recessiva. De novo aqui a posição
de Blanchard não é de molde a cobrir adequadamente a posição do FMI. Reformas
consideradas necessárias apesar do seu impacto negativo no crescimento e erros
na apreciação dos multiplicadores da despesa são condições que condenavam à
partida a economia grega a um não crescimento. Porquê então insistir nas
mesmas? Simplesmente erro de avaliação, não eficazmente comunicado aos
credores.
Finalmente, a quarta crítica de que os credores não terão aprendido com
2010. Esta questão é influenciada primeiro pela alteração da tipologia de
credores, desta vez mais largamente dependente de opiniões públicas nacionais
porque envolvem dívida e financiamento público. Em segundo lugar, porque a
eleição do SYRIZA coloca na governação uma força política que não podia ser
acusada de conivência com a não aplicação dos compromissos assumidos. E a
partir daqui tudo se complica, porque todos os mafarricos de opinião pública
nacional estão à solta, com forças políticas no poder ou a querer lá chegar
cada vez menos interessadas em cedências a favor de uma estabilidade mínima da
zona euro. O FMI procura distanciar-se chamando a atenção para a insustentabilidade
da dívida atual, lavando daí as mãos mas dada a instabilidade das suas posições
passadas a sua mensagem não parece muito convincente para os credores de agora.
Mas que lio!
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