(A vertigem de cinco meses de governo começa a
ser revelada)
O meu amigo Leonardo Costa leva-me à entrevista de Varoufakis na New Statesman, o que constitui material
imperdível como repositório da vertigem de governação grega nos últimos 5
meses.
A entrevista tem pormenores decisivos para compreender o último fim de
semana. Vale a pena destacar alguns, pois constituem verbalizações do que
podemos intuir a partir do pouco que vai transpirando cá para fora.
Varoufakis acusa em primeiro lugar o Eurogrupo de clima com completa ausência
de escrúpulos democráticos de quem se afirma defensor dos princípios da
democracia europeia. É uma afirmação forte, mas alguém tinha dúvidas do grau
zero da democracia praticado pelo Eurogrupo?
Surpreendente é a afirmação de Varoufakis que quando discutia economia no
Eurogrupo se sentia um extraterrestre. Nada mais lapidar. A lógica de
argumentação no Eurogrupo já ultrapassou o racional económico há muito tempo,
pois a via dos ajustamentos punitivos não tem hoje qualquer suporte económico,
transformou-se numa crença, numa ideologia, num instrumento de submissão. Isso
explica a esmagadora posição crítica da inteligência económica por esse mundo
fora, extensiva a pensadores de matriz liberal e próglobalização, do tipo
Martin Wolf.
Para além disto, Varoufakis relata a posição dominante de Schäuble em toda
a dinâmica do grupo, a oposição ténue do ministro das Finanças francês e a
posição irredutível das economias resgatadas do sul, apavoradas com um eventual
êxito negocial do SYRIZA. Tudo cristalino e não tenho dúvidas de que o tenha
expresso nas próprias conversas do Eurogrupo.
E finalmente explica em parte a sua saída do Governo sobretudo baseada na
apresentação a Tsipras de uma solução de saída para a Grécia contingencialmente
aplicada se o BCE e as autoridades comunitárias não atacassem a asfixia bancária
grega.
Curiosamente uma entrevista distendida, serena, não revanchista, revelando
sobretudo o alívio de alguém que pode finalmente dormir mais do que duas horas
por noite sem ser interrompido a qualquer hora.
Tenho cá para mim a intuição de que Varoufakis ficará na história e não será
pelo seu exibicionismo mediático que tanto irritou os cinzentões da praça, os
tais que a coberto de uma pose de Estado o minam por dentro e aos seus frágeis
suportes democráticos.
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