(Ideias avulsas de um dia pós referendo)
O SPD alemão através do seu líder e vice-chanceler alemão deu o mote:
afinal qualquer que fosse o resultado do referendo grego e a interpretação do
rotundo não alguém já traçou o destino dos gregos, raciocinando como se os 19
fossem já 18. É simplesmente metafórico que o primeiro zurrar pós referendo
fosse de um socialista europeu, aliás para corroborar o zurrar anterior de
Martin Schultz. Com sociais-democratas deste calibre estamos aviados.
Ainda poderei compreender, mas não aceitar, que o pensamento pelas bandas
do norte esteja a evoluir neste sentido. Mas que nos países mais débeis da zona
euro, como Portugal, se pense assim equivale a uma absoluta incompreensão da
história futura. Senão vejamos. Se a zona euro não aceita resolver os seus
desequilíbrios internos, acomodando a situação dos que só conseguem gerar excedentes
orçamentais primários e excedentes externos à custa de uma penosidade social
generalizada e no caso particular de uma Grécia com inequívoco potencial geopolítico
e geoestratégico, então países débeis como Portugal não deveriam aceitar como
inevitável a exclusão da Grécia. Será tudo uma questão de tempo e Portugal
estará obviamente na linha de mira.
A indiferença que grassa pela opinião pública europeia com uma situação de
GREXIT é o produto triste de uma linha de pensamento único que se fecha inclusivamente
a uma poderosa manifestação de democracia, acusando os gregos de tudo mas todos
rejeitando a tese do erro enorme do ajustamento a que a economia grega foi
sujeita. Como dizia ontem Marcelo, do ponto de vista político 19-1 não é de
facto igual a 18. 19-1 equivalerá a prazo ao desmembramento de todo o processo
de construção europeia, pois revelará que as instituições comunitárias não são
capazes de equacionar os desequilíbrios flagrantes no seio da união económica e
monetária.
Das leituras dispersas e anárquicas a que uma situação destas nos conduz,
retenho por hoje duas:
“Se a EU
é o lugar da Grécia isso é assim porque a Grécia é o lugar fundacional da
Europa. É óbvio que nem Alexis Tsipras nem Andonis Samarás são Péricles. Mas os
valores humanistas desta Europa estão ancorados no seu tempo e circunstância e
a Hélade clássica é o seu primeiro problema mais do que a Roma imperial. É um símbolo
chave para a narrativa europeia: o comércio (o empório), a praça pública (a ágora),
a cidade (a pólis), a razão (o logos), o poder do povo (a dimo-kratia). E para
os seus interesses: a continuidade geográfica com os Balcãs por Este; a fluidez
com o polo atlântico português (história paralela) no extremo ocidental; a
eclusa do Oriente (como acertadamente a China o compreende, que compra o porto
do Pireu para entrar no Mar). A Grécia pode ser sempre talvez um problema, mas
constitui parte essencial do contrato da Europa consigo própria.”
“(…) a
Alemanha … é realmente o melhor exemplo de um país que, ao longo da sua história,
nunca pagou a sua dívida externa. … Todavia, obrigou frequentemente outras nações
a pagar ... A história da dívida pública está cheia de ironia. Raramente
acompanha as nossas ideias de ordem e justiça. Quando ouço que os Alemães conservam
uma atitude moral sobre a dívida e acreditam fortemente que as dívidas devem
ser pagas, dou comigo a pensar: mas que grande anedota. A Alemanha é o país que
nunca pagou as suas dívidas. Não tem moral para o ensinar a outras Nações.”
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