segunda-feira, 13 de julho de 2015

HUMILHAÇÃO E IMPOTÊNCIA




(Em 66 anos de vida é a primeira e mais devastadora sensação de inibição cívica)

Nunca numas férias amenas me senti tão agoniado de inibição cívica como a que resulta da perceção à distância do ambiente de humilhação e impotência com que o Eurogrupo e por tabela a reunião de primeiros-ministros, apesar da resistência de Hollande, está a submeter a Grécia para viabilizar o terceiro resgate e a periclitante manutenção no Euro.

John Cassidy, na New Yorker, não hesita em chamar-lhe proposta indecente, vinda de um documento que todos reportam ao gabinete do ministro Schäuble e que, entre outras faltas de vergonha, fixava “a transferência de ativos gregos valiosos para um fundo exterior como o Institution for Growth no Luxemburgo, para serem privatizados e diminuir a dívida”. A reação provocada nas redes sociais, particularmente no Twitter (Thisisacoup), por esta forma de ingerência máxima é incrivelmente reveladora do estado das coisas a que se chegou, de desintegração pura e simples do edifício europeu.


“(...) O que aprendemos nestas últimas semanas foi que ser membro da zona euro significa que os credores podem destruir a vossa economia se pisarem a linha. Isto não tem qualquer suporte na economia de austeridade em curso. É tão verdade como impor austeridade sem limites e sem perdão de dívida é uma política condenada não importa quanto o país estiver disposto a sofrer. E quer dizer por sua vez que uma completa capitulação grega poderá ser uma morte final.”

Adivinham-se as turbulências que este ultimatum de humilhação e impotência irá provocar na instável situação política grega.

Compreende-se também que no seu exotismo exibicionista Varoufakis tinha razão. Ele compreendeu bem o ambiente que se abate no Eurogrupo. Vem também ao de cima o ridículo da reunião dos socialistas europeus, atendendo ao “relevante” impacto que ela teve nas negociações de ontem.

E agora António Costa?

Com estas evidências de um muro inamovível, os cenários de governação do PS deixarão de poder contar com as frestas antecipáveis para esse muro. Um cenário de capitulação europeia e de reequacionamento da emergência de moedas nacionais não é tão académico quanto isso. Será que alguém que glorifique a democracia pode pactuar com este estado de coisas? O que é que um SPD alemão está a fazer no governo de Merkel caucionando a desvergonha do seu ministro das Finanças?

Parece impossível e trágico mas o imobilismo retrógrado do PCP coloca-o na frente da defesa dos valores patrióticos. Estranha metáfora dos dias de hoje. E o mundo não está para velhos!

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