quinta-feira, 30 de julho de 2015

A TAXA DE DESEMPREGO



(Coincidências ou talvez não…)

Talvez seja coincidência, ou não, quem sabe. Depois de um relatório do FMI ter abalado a cantilena da maioria com o sublinhar da dimensão estrutural (conviria discutir esta questão do estrutural) do desemprego em Portugal, que determina que a sua recuperação vá ser provavelmente muito lenta, a estimativa de junho do INE da taxa de desemprego (calculada em relação aos indivíduos entre os 15 e os 74 anos) vem repor as condições para o discurso de recuperação da maioria. A taxa corrigida pela sazonalidade aponta agora para 12,4%, corrigindo assim as estimativas elaboradas em maio, representa uma revisão positiva da população empregada de 50,7 indivíduos e um recuo da população desempregada de menos 41,7 indivíduos. A estimativa de junho, corrigida da sazonalidade, representa mesmo assim um ligeiro agravamento da população desempregada de 1.300 indivíduos em relação a maio anterior e de um emprego também ligeiramente inferior em cerca de 2.000 indivíduos.

Certamente que esta publicação em pleno cenário de encerramento para férias da luta política vai despertar a usual conflitualidade e a suspeição de manipulação de informação estatística. Não tenho razões para suspeitar de tanta descida de nível institucional por parte do INE, e acredito plenamente que o INE se limita a aplicar as regras impostas pelo EUROSTAT para permitir a harmonização e a comparação de dados no contexto da UE. A luta política que pode ser travada em função destes dados deve em meu entender explorar toda a informação que o inquérito ao emprego proporciona e contextualizar os dados relativamente ao possível artificialismo da redução da taxa de desemprego, tendo em conta a enorme relevância do efeito que as políticas ativas de emprego (estágios, sobretudo) podem determinar nos números do emprego, nunca perdendo de vista que se o fizermos teríamos de realizar a mesma operação para eventuais comparações europeias. Acredito que essa via de discussão dos números é bem mais segura do que recorrer ao desemprego registado nos centros de emprego do IEFP, pois aí a possibilidade de manipulação soft dos dados é mais elevada, atendendo a que nesse campo não há o normativo Eurostat a influenciar a administração da informação.

É por isso necessário discutir com rigor a sustentabilidade desta melhoria da taxa de desemprego e sobretudo discuti-la do ponto de vista da precariedade do emprego. Algum impacto na taxa de desemprego a moderada recuperação económica terá de produzir. O que é relevante discutir é a medida em que as políticas ativas de emprego influenciam artificialmente a criação de emprego, embora a maioria possa invocar a mais elevada taxa de empregabilidade que os estágios apresentam em relação a outras políticas ativas. Não me parece que entrar pelo domínio da suspeição da manipulação estatística seja uma via fecunda e ela terá sempre um efeito de arremesso para outros governos. Rejeitar a ideia de manipulação estatística não significa que não se possa criticar violentamente a manipulação política realizada a partir dessa informação. A suspeição estatística não serve a ninguém.

Sem comentários:

Enviar um comentário