(Um rosto representativo da capitulação
socialista)
O estado das coisas em que a política europeia está presentemente
mergulhada, com a mais completa rejeição de uma gestão macroeconómica mais
equilibrada que economistas e outros intelectuais decentes e não comprometidos
com qualquer agenda financeira têm recomendado, não resulta do agravamento da
situação grega. É antes o resultado de uma longa deterioração desse estado de
coisas que começou quando as incidências e avanços do projeto europeu se
afastaram do escrutínio democrático nacional em simultâneo com a reduzida
afirmação do Parlamento Europeu. O consulado de Barroso ficará
indissociavelmente ligado na história a essa degradação, por muito que se
queira branquear essa presidência da Comissão Europeia para massajar o decrépito
ego nacional.
Mas esse estado das coisas não teria sido atingido sem o colaboracionismo
capitulador dos socialistas e sociais-democratas europeus, processo que é mimético
da divisão norte-sul, sobretudo a partir do momento em que após os tempos de Mário
Soares em Portugal e de Felipe Gonzalez em Espanha os socialistas ibéricos
praticamente deixaram de se fazer ouvir entre os socialistas europeus. O
processo teve o seu cavalo de Tróia. O blairismo foi essa entrada que
precipitou a vulgarização do pensamento socialista europeu. Sim, Tony Blair,
essa personagem hoje digna de uma igreja do tipo IURD ou similar e que se
passeia nas pretensas missões internacionais de paz e que as utiliza para
valorização dos seus próprios negócios, transformando a sua função numa das
mais indecorosas utilizações da política para benefício empresarial próprio,
com o beneplácito de mundo apático, indiferente ou claramente comprometido.
Neste estado das coisas, todo o pensamento económico progressivo, por
exemplo o que se acolhe junto do movimento da Progressive Economy, foge da
intervenção política socialista ou social-democrata como o diabo foge da cruz e
isso por razões válidas. Daí que essa intervenção mais progressiva de
economistas e outros intelectuais caia na esfera de influência de outros grupos
políticos que não os que se projetam mais diretamente no universo da governação.
Os socialistas e sociais-democratas europeus mostram-se hoje incapazes de ser interlocutores
dessa reflexão económica e política porque se mostram incapazes de a traduzir
numa atuação política consequente, tamanha é a sua cumplicidade com as teses
apadrinhadas pelo PPE, quaisquer que sejam as orientações e conflitualidades
internas deste último.
A existência de uma figura robot dá sempre jeito para mostrar a um filho ou
neto mais curiosos em que é que o pensamento socialista e social-democrata
europeu se transformou.
O encaracolado Jeroen Dijsselbloem, ministro das finanças holandês e
presidente do Eurogrupo, é o retrato robot de toda essa capitulação e
deterioração de pensamento. E, além disso, é claramente metafórico que seja um “socialista”
europeu a presidir ao Eurogrupo, com larga probabilidade de renovar o seu
mandato.
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