(Paul Krugman)
(A propósito das recuperações em economias
resgatadas)
Anda por aí um clamor, de que a maioria PSD-CDS constitui um arauto fiel e
bem ensinado, segundo o qual, graças aos efeitos da austeridade, tal purga purificadora, estaria agora a ser potenciado o crescimento tão
ambicionado, aliás apresentado como arma de ricochete para com os desamparados
gregos (este é o caminho seus indisciplinados!).
O discurso é de uma pobreza franciscana e mostra bem o grau zero de inteligência
com que se faz política hoje em dia, como se entre os dois processos houvesse
alguma relação de causa e efeito.
Simon Wren-Lewis já o tinha notado a propósito de discurso similar no
Reino Unido habilmente montado pelos conservadores, desmontando a malandrice,
mas agora Krugman fá-lo para o grupo dos GIIPS (Portugal, Espanha, Grécia, Itália
e Irlanda).
E, como sempre, a linguagem é mortífera. Krugman usa dados do FMI e recorre
ao conceito do balanço orçamental estrutural em percentagem do produto
potencial como medida do grau de aperto fiscal com que a via punitiva e austeritária
foi praticada nesses países, ponderando estes pelo seu produto à paridade do
poder de compra.
O gráfico que abre este post é inequívoco. De 2009 a 2013 há um
significativo aperto fiscal para o conjunto dos países selecionados, ao qual se
segue uma moratória em 2014. Ou seja, vejam a maldade do argumento. Aperta-se
fiscalmente as economias, destruindo obviamente produto, e após quase cinco
anos desse aperto concede-se uma moratória e obviamente o produto ressente-se
positivamente desse desaperto fiscal. E, a partir daí, é a própria dinâmica
combinada da procura interna e externa que faz o resto. A maioria PSD-CDS já há
algum tempo começou esse levantamento do pé e a todo o momento é publicitada
mais uma medida aliviadora. Será isto o efeito redentor e purificador da
austeridade? Não, precisamente o contrário.
A Espanha pela sua vasta dimensão de mercado interno merece uma menção
especial até porque lidera as previsões de crescimento. Há aqui um efeito de
dimensão-país que qualquer aliviamento do aperto fiscal potencia
desmesuradamente.
(Paul Krugman)
E como não podia deixar de ser o gráfico acima repõe o sentido das coisas.
Há de facto uma correlação fortemente negativa entre a variação do balanço
orçamental estrutural e a taxa de crescimento do PIB, ou seja a melhorias do
saldo estrutural induzidas pela austeridade correspondem taxas de variação
negativa do PIB. Esta é a verdadeira história. O clamor da maioria é pura banha
de cobra e o PS não pode deixar passar esse branqueamento que subtilmente está
a passar no discurso político.
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