(André Carrilho, http://www.independent.co.uk)
O conservador mas nada ortodoxo mayor de Londres, Boris Johnson, tem uma nem sempre interessante coluna dominical no “Telegraph”. Mas a última, se excetuarmos a de hoje, é digna de menção dado que constitui um dos mais cortantes panfletos que por estes dias se escreveram acerca da Europa que temos e dos seus malefícios e perversões. O artigo tinha por título “Greece must rediscover the spirit of Marathon to burst its euro shackles” e, não contente com esta referência de abertura aos grilhões do Euro, subtitulava com o argumento de as propostas alemãs sobre a constituição de um fundo com ativos gregos terem nada menos do que uma equivalência a tirania: “German proposals to take over Greek state assets are tantamount to tyranny”. E isto apenas para inícios de conversa.
Depois, e no quadro de uma análise cáustica como poucas, defendia o ponto de vista de que o documento alemão “marca uma nova partida na diplomacia europeia moderna”. Com a sucessão de palavras caraterizadoras da situação a atingir limites impensáveis, quase poéticos até se quisermos praticar alguma ironia. Senão veja-se este período: “Se a Grécia quer permanecer na moeda única europeia, Atenas deve prostrar-se num ato de auto-humilhação canina que os antigos chamavam proskynesis”. Ou este: “A Zona Euro está realmente a transformar-se num hospício e o paciente moribundo é o autogoverno democrático”. Ou este, ainda: “Após cinco anos de crise, a União Europeia atingiu tal profundeza de exaustão intelectual e espiritual que os ministros querem contemplar duas opções pavorosas: a imolação da democracia grega ou um Grexit que iria quase certamente mostrar-se contagioso para outros membros da Zona Euro”. Ou, por fim, a conclusiva afirmação de que “ninguém pode ler esse documento alemão e concluir que a União Europeia ainda pretende ser uma associação de Estados-nações soberanos”.
E sabem o que me parece mais grave em tudo isto? Pois, acho que o pior é o lamentável facto de que o absurdo do encadeamento dos factos que os líderes europeus vão imaginosamente tecendo vai dando crescente motivação, força e até razão aos eurocéticos de todos os quadrantes. As consequências, essas, são de momento ainda largamente incalculáveis...
(Mario Airaghi, http://solovignette.it)
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