quinta-feira, 16 de julho de 2015

A HISTÓRIA, SEMPRE A HISTÓRIA

(Henri Sterdnyak)



(Com a devida vénia ao Naked Keynesianism, ao Les Économistes Aterrés, a Henri Sterdenyak e ao amigo Leonardo Costa que me alertou para tal)

Graças ao abandono de um negociador arrogante, as negociações sérias podem agora começar

As negociações em torno do Tratado de Versalhes têm sido perturbadas pela atitude de um negociador britânico, um tal John Maynard Keynes. Ele tem uma personalidade extravagante e uma moral dúbia (diz-se que depois de ter frequentado a Ópera mais pelos bailarinos do que pela música casou com uma bailarina) e utilizou consistentemente um tom arrogante e profissional para esmagar com o seu desprezo os outros negociadores.

Ignorando os ensinamentos elementares da economia, Mr. Keynes argumentou que os países incorrendo em excedentes da balança corrente, aqueles que fizeram esforços significativos, são tão responsáveis como os países que incorrem em défices na criação de desequilíbrios económicos. Mais ainda, defendeu que em tempos de subemprego, os países excedentários devem gastar mais, estimulando por essa via a prodigalidade. Apelou a que em períodos de dificuldade a despesa pública deve ser aumentada e escarneceu dos personagens que pensam naturalmente que um país só pode aumentar o seu produto gastando menos para poupar mais. Ele defendeu a ideia de que a Alemanha deveria ser autorizada a reconstruir a sua economia anulando as suas dívidas, em vez de a esmagar com o peso dos pagamentos que a projetariam na miséria, encorajando a sua extrema-direita. De facto, é óbvio que mesmo uma anulação parcial de dívida constituiria um perigoso precedente e favoreceria o desperdício. Por último, ele apelou a todos os países que renunciassem a políticas decididas por unanimidade que tentassem repor a paridade do padrão-ouro aos níveis de antes da guerra. Mais ainda, defendeu que esse objetivo não é apenas custoso e impraticável, mas também que foi responsável pelo baixo crescimento da Europa, enquanto se recusou a aceitar que os salários fossem excessivos. Tendo incomodado todos os representantes e delegações razoáveis, Mr. Keynes optou por se demitir. São boas notícias para a paz na Europa”.

Henry Sterdnyak

Chamo a atenção para a má qualidade da tradução inglesa do original em francês.

Este texto é uma preciosidade e vem de novo chamar a atenção para uma das leituras mais preciosas que tive alguma vez oportunidade de realizar: The Economic Consequences of the Peace, John Maynard Keynes, na versão que li com prefácio de Paul A. Volcker um gigante à frente do FED-USA nas administrações Carter e Reagan. No fundo, um livrinho que deveria constar de toda a iniciação à economia. É óbvio que a imbecilidade e iliteracia de um Francisco Sarsfield Cabral não resistiriam a essa leitura.

Resta dizer que Keynes considerava que a cegueira dos vencedores da guerra era uma mistura explosiva de matérias eleitorais da época, de pseudo-moral, de pseudo justiça e do mais puro espírito de desforra e de vingança. Talvez não imaginasse que a história se repetisse.

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