Uma boa entrevista, a da presidente do Conselho das Finanças Públicas ao “Diário Económico”. Com muitas referências ajustadas à atual situação da economia portuguesa e cheia de ponderação quanto às suas perspetivas no próximo futuro, como é apanágio de uma Teodora Cardoso (TC) que talvez peque por alguma escolástica mas que continua indiscutivelmente a ser um dos melhores e mais sérios economistas portugueses.
Foco-me em dois pontos específicos e de algum modo complementares. Um tem a ver com o recado que o jornal chama a grande título das suas páginas interiores e que é claramente tradutor de uma intenção forte de TC no sentido de “tirar o gás ao champanhe” daqueles que continuam a depositar ilusões – ou delas ainda não foram capazes de abdicar convictamente – em relação à possibilidade de um crescimento económico marcadamente arrastado pela esfera pública. O outro releva de um debate que percorre a sociedade portuguesa – em boa verdade, e com honrosas exceções, o debate é limitado e apenas tendencial no seio dos especialistas e, mais do que qualquer outra coisa, o tema tem vindo a ser sobretudo apropriado pela chicana partidária – na sequência da proposta do PS de ser utilizada a Taxa Social Única (TSU) como grande instrumento conjuntural de política económica.
A novidade mais impactante da entrevista está, a meu ver, na constatação de que, com todas as cautelas à mistura (“se for bem feito”), TC não recusa e até acaba por validar uma medida manipuladora da TSU (“se beneficiar o custo do trabalho, sobretudo em setores de bens transacionáveis, isso cria emprego e torna a economia mais competitiva”) – eis uma aproximação significativa e certamente estimulante para as hostes de António Costa...
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