sexta-feira, 10 de julho de 2015

ESTARÃO OS CREDORES DIVIDIDOS?




(The final countdown?)

O ritmo dos acontecimentos é alucinante, vertiginoso. Tsipras baralhou, voltou a dar e pode acontecer algo de simultaneamente positivo e sombrio, desenha-se finalmente uma hipótese de acordo que introduzirá algumas amenidades mas que não será substancialmente contrária ao que os gregos rejeitaram em referendo.

Segundo o sempre bem informado Wolfgang Mϋnchau, Tsipras terá conseguido pelo menos introduzir alguma divisão entre os credores, o que não é coisa pouca nos tempos que correm. Hollande, curiosamente acompanhado pelo seu para a frentex Ministro da Economia, Emmanuel Macron, terá finalmente compreendido que de uma vez por todas tem aqui uma grande oportunidade de se fazer ouvir e ganhar algum espaço de autoridade para a concertação de interesses, sem propriamente quebrar o eixo Paris-Berlim. Mas mais importante do que a saída da casca de um agigantado Hollande, Tsipras introduziu na discussão com os credores a questão da reestruturação da dívida, assuma ela a forma que puder assumir no difícil equilíbrio em formação. Por fim em coerência com os relatórios que produz, Madame Lagarde vem dar conta da necessidade da reestruturação da dívida, a única via possível para contrapor à insustentabilidade da dívida atual e até o Presidente do Conselho Europeu Donald Tusk deu guarida a essa posição. No Eurogrupo, as trincheiras estão mais cerradas, porque o respeitinho ao ministro Schäuble parece mais notório. Mas as vozes que têm cruzado o relatório FMI sobre a insustentabilidade da dívida com a necessidade da sua reestruturação têm-se multiplicado. Pareceu-me extremamente importante a posição do analista financeiro da New Yorker, James Surowiecki, que ilustra bem a atenção com que a opinião pública americana mais esclarecida está a seguir este caso: “(…) a Grécia não precisa apenas de se endividar para pagar as suas dívidas passadas, tem de pedir emprestado para manter as luzes acesas. Neste contexto, a sua única alavancagem e defesa é apelar à Europa para manter a zona euro intacta. O problema é que a sua debilidade económica atual só acirra o maior medo alemão, que consiste com efeito em subsidiar para sempre os défices gregos.”

Surpreendentemente ou talvez não pelas contas da tática negocial, as cartas de Tsipras e do novo ministro das Finanças Tsakalotos não referem a reestrutração ou o corte de dívida, dão conta da firme intenção de continuar a integrar a zona euro (o que significa que a nossa esquerda a favor da saída do Euro passa a não ter no SYRIZA a evidência negocial de que necessitava) e sobretudo a carta de Tsakalotos abunda em música para ouvido de credor ouvir, considerando que a proposta apresentada é: “uma visão que serve o nosso compromisso de permanecer um membro de pleno direito da zona euro e de respeitar as regras em curso da nossa união monetária; uma visão que suporta o compromisso com um conjunto compreensivo de reformas e de medidas a ser implementadas na área da sustentabilidade fiscal, da estabilidade financeira, crescimento económico a longo prazo e desenvolvimento sustentável e, last but not the least, reformar a administração pública.”

Linguagem de pura tática (o que seria um gigantesco bluff) ou a evidência de que o SYRIZA é paradoxalmente a única força política na Grécia de hoje que pode dar alguma credibilidade a esses compromissos?

Mas os credores tocam sempre mais de duas vezes e ou muito me engano ou atacarão sobretudo na reestruturação do sistema bancário grego. Até ao próximo domingo a vertigem persistirá, com a dúvida se a seguir virá a incerteza do caos ou um pouco de estabilidade.

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