(The final countdown?)
O ritmo dos acontecimentos é alucinante, vertiginoso. Tsipras baralhou,
voltou a dar e pode acontecer algo de simultaneamente positivo e sombrio,
desenha-se finalmente uma hipótese de acordo que introduzirá algumas amenidades
mas que não será substancialmente contrária ao que os gregos rejeitaram em
referendo.
Segundo o sempre bem informado Wolfgang Mϋnchau, Tsipras terá conseguido
pelo menos introduzir alguma divisão entre os credores, o que não é coisa pouca
nos tempos que correm. Hollande, curiosamente acompanhado pelo seu para a
frentex Ministro da Economia, Emmanuel Macron, terá finalmente compreendido que
de uma vez por todas tem aqui uma grande oportunidade de se fazer ouvir e
ganhar algum espaço de autoridade para a concertação de interesses, sem
propriamente quebrar o eixo Paris-Berlim. Mas mais importante do que a saída da
casca de um agigantado Hollande, Tsipras introduziu na discussão com os
credores a questão da reestruturação da dívida, assuma ela a forma que puder
assumir no difícil equilíbrio em formação. Por fim em coerência com os relatórios
que produz, Madame Lagarde vem dar conta da necessidade da reestruturação da dívida,
a única via possível para contrapor à insustentabilidade da dívida atual e até
o Presidente do Conselho Europeu Donald Tusk deu guarida a essa posição. No
Eurogrupo, as trincheiras estão mais cerradas, porque o respeitinho ao ministro
Schäuble parece mais notório. Mas as vozes que têm cruzado o relatório FMI
sobre a insustentabilidade da dívida com a necessidade da sua reestruturação têm-se
multiplicado. Pareceu-me extremamente importante a posição do analista financeiro da New Yorker, James Surowiecki, que ilustra bem a atenção com que a
opinião pública americana mais esclarecida está a seguir este caso: “(…) a Grécia não precisa apenas de se endividar para pagar as
suas dívidas passadas, tem de pedir emprestado para manter as luzes acesas. Neste
contexto, a sua única alavancagem e defesa é apelar à Europa para manter a zona
euro intacta. O problema é que a sua debilidade económica atual só acirra o
maior medo alemão, que consiste com efeito em subsidiar para sempre os défices
gregos.”
Surpreendentemente ou talvez não pelas contas da tática negocial, as cartas
de Tsipras e do novo ministro das Finanças Tsakalotos não referem a reestrutração
ou o corte de dívida, dão conta da firme intenção de continuar a integrar a
zona euro (o que significa que a nossa esquerda a favor da saída do Euro passa
a não ter no SYRIZA a evidência negocial de que necessitava) e sobretudo a
carta de Tsakalotos abunda em música para ouvido de credor ouvir, considerando
que a proposta apresentada é: “uma visão que
serve o nosso compromisso de permanecer um membro de pleno direito da zona euro
e de respeitar as regras em curso da nossa união monetária; uma visão que
suporta o compromisso com um conjunto compreensivo de reformas e de medidas a
ser implementadas na área da sustentabilidade fiscal, da estabilidade
financeira, crescimento económico a longo prazo e desenvolvimento sustentável
e, last but not the least, reformar a administração pública.”
Linguagem de pura tática (o que seria um gigantesco bluff) ou a evidência
de que o SYRIZA é paradoxalmente a única força política na Grécia de hoje que
pode dar alguma credibilidade a esses compromissos?
Mas os credores tocam sempre mais de duas vezes e ou muito me engano ou
atacarão sobretudo na reestruturação do sistema bancário grego. Até ao próximo
domingo a vertigem persistirá, com a dúvida se a seguir virá a incerteza do
caos ou um pouco de estabilidade.
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