terça-feira, 21 de julho de 2015

A GUERRA DAS LISTAS




(Algum esforço para compreender uma matéria que escapa ao cidadão que busca uma representação parlamentar credível e legítima dos seus interesses)

Que o PS é um partido com paredes de vidro, tudo indica que está em consolidação. Ter telhados ou paredes de vidro não é bem a mesma coisa já o sabemos, mas neste caso a metáfora das paredes aplica-se melhor. Assim lá se vão conhecendo algumas das incidências internas mais recentes e o período é propício, tudo gira em torno da constituição das listas para as próximas eleições. A crónica é parcialmente anunciada. Quando os exércitos se alinham em redor de dois candidatos que disputam o poder interno para se posicionarem em matéria de eleições nacionais é dos livros que, após a contenda intercalar, não é fácil encontrar equilíbrios entre a parte vencedora e a parte vencida. O problema é tanto mais complexo quanto mais a parte vencedora pretende neste caso transmitir ao eleitorado uma imagem de renovação, trazendo para o trabalho eleitoral e depois parlamentar, não se sabe se como trampolim para a constituição de governo. A dança das cadeiras é inevitável, e é uma dança bem estranha pois neste caso será desproporcionada a relação entre os protagonistas e as cadeiras, tanto mais que a disputa eleitoral será mais tensa do que alguns dos protagonistas esperariam.

Que dizer então das dificuldades que António Costa estará a encontrar para acalmar ânimos e promover os equilíbrios possíveis e aqui o critério do possível é encontrar soluções (listas) que não perturbem a energia coletiva que a batalha eleitoral vai exigir?

Não valorizo excessivamente estas dificuldades, sobretudo porque os partidos portugueses, não assumindo a institucionalização das tendências internas, obviamente que se sujeitam a processos mais complexos de escolha de candidatos do que os que seriam praticáveis com quotas associáveis a tendências em função dos resultados.

O meu problema prende-se com o desconhecimento absoluto a que um cidadão afastado das querelas partidárias internas é sujeito quando do lado de cá a toda a série de notícias de arranjos e desarranjos, de entradas e saídas, de quem fica e é excluído, sobretudo quando estão envolvidos nomes sobre os quais uma alma como a minha não ouviu um pensamento, uma ideia, um sentido de intervenção futura. A título de exemplo, e perdoem-me porque se trata de presenças ou ausências de mulheres futuras deputadas, os jornais de hoje falavam da perplexidade de uma ex-presidente de Câmara (Trofa, neste caso), que perdeu estrondosamente a sua luta eleitoral estar nas listas e falavam também de excesso de representação da mesma Trofa com a presença de uma tal Teresa Fernandes. E já no fim de tarde de hoje José Luís Carneiro líder distrital falava também da falta de equilíbrios territoriais, com o vale do Sousa e o Baixo Tâmega pouco representados.

Certamente que os critérios de discussão serão muito “nobres”, sobretudo na perspetiva dos exércitos internos. Mas para a perspetiva do cidadão que votará à procura de representação credível das suas ideias e interesses, a sensação é de um vazio incomensurável. E não me venham com a força aglutinadora de um programa eleitoral e dos documentos no caso do PS que o prepararam. Porque o programa é uma coisa, a qualidade da governação futura outra bem diferente e a qualidade dos representantes parlamentares ainda também bem diferente. Por outras palavras, nesta dança de cadeiras ou guerra das listas está a ser jogado o padrão qualitativo da representação parlamentar e não deixa de ser uma sensação de um vazio estranho que me atormenta o espírito.

Mas alguma renovação existe. António Costa é responsável através da sua quota de representação pela indicação de alguns independentes, com destaque para os rostos mais sonantes do programa económico do PS (Mário Centeno, Paulo Trigo Pereira, Manuel Caldeira Cabral), gente com pensamento político programático (Porfírio Silva, por exemplo), carismática e participativa (Helena Roseta) e algumas apostas de raiz na ciência, como o bioquímico Tiago Brandão Rodrigues que se desloca do ambiente de investigação de Cambridge – UK para o primeiro lugar da lista de Viana do Castelo, constituindo talvez a aposta mais inovadora, e Alexandre Quintanilha pelo Porto e Helena Freitas por Coimbra. Interessaria clarificar se estamos perante apostas parlamentares ou passagens de lista para um governo possível. Ambas são legítimas mas gostaria de eleger gente em quem confiasse para a representação parlamentar e não suplentes de circunstância alinhados em função dos tais equilíbrios de que falava José Luís Carneiro. Por isso, uma divisão das águas seria valorizadora da escolha democrática.

E já que se fala de renovação necessária, também se recomendaria que isso acontecesse pelas bandas da tendência segurista. Joaquim Raposo em lugar elegível pela lista de Lisboa não lembraria a um diabo renovador. Há de facto gente que vai passar por este mundo da política sem que se lhe conheça uma ideia ou posicionamento relevante para a democracia que se dispõem a representar.

Sem comentários:

Enviar um comentário