(Noma Bar, http://www.theguardian.com)
Para não variar, voltemos à Grécia. Onde estamos agora em pleno momento de uma tensa expectativa quanto à efetiva execução por Tsipras do “TPC” que lhe foi imposto em Bruxelas sem apelo nem agravo, assim como quanto às reações políticas e sociais que dela necessariamente decorrem e decorrerão. Sendo que, ao contrário do que vão dizendo tantos dos condicionados e irritantes comentadores da treta que nos cercam e massacram, o que verdadeiramente releva não são nem os inúmeros e frequentemente caricaturais pecados que novelescamente assacam à Grécia nem as atitudes e mudanças de posição que do sofá criticamente observam nos seus governantes e respetivo primeiro-ministro.
Porque uma coisa são os vícios e os abusos detetáveis na política e na sociedade gregas, ao longo de anos e num quadro de responsabilidades bem distribuídas ao mais alto nível (PASOK e Nova Democracia, entidades públicas, Igreja Ortodoxa, armadores e outras elites empresariais), outra coisa são as acusações fáceis e exponenciadas com que se confronta um povo dito “despesista, incumpridor e corrupto” ou certas insinuações absurdas e ofensivas em torno de um hipotético “Estado falhado” (sic!). Porque uma coisa são os extravasamentos públicos ou privados de Varoufakis, outra coisa são os traumas íntimos associados à cadeira de rodas de Schäuble. Porque uma coisa é o ideário mais ou menos lírico ou radical do Syriza, outra coisa é a axiomática imposição de uma impossível alternativa à agenda única dominante (“TINA”, there is no alternative).
(Christian Adams, http://www.telegraph.co.uk)
(Alexander Raskolnick, http://raskolnick.soup.io)
(Bart, http://www.jornaldenegocios.pt)
Porque uma coisa é a necessidade de estimular procedimentos normalizadores e transformadores na Grécia dos interesses, outra coisa é insistir em políticas destrutivamente austeritárias e comprovadamente incapazes de conduzir ao proclamado objetivo de um ajustamento económico e financeiro, para já não mencionar de uma quimérica retoma da competitividade. Porque uma coisa é a aritmética simplista dos contabilistas nacionais e pressurosos defensores dos bolsos dos contribuintes, outra coisa é o seu enquadramento num contexto dos ganhos de soma positiva que os teóricos da integração económica e política costumavam patentear. Porque uma coisa é uma estratégia definida a partir de pressupostos triunfalistas ou errados (como poderá ter sido a do Syriza), outra coisa é uma moeda única europeu assente numa lógica de funcionamento inviável e em teimosas adaptações ad hoc e de circunstância.
(Ben
Jennings, http://www.independent.co.uk)
(Emilio Giannelli, http://www.corriere.it)
(Matt Kenyon, http://www.theguardian.com)
Porque uma coisa são as alegadas manifestações de desorientação tática por parte de Tsipras, incluindo a sua “estúpida” submissão sob protesto à lei do mais forte, outra coisa são as tropelias e os requintes de vingança e malvadez a que se autorizam os seus inteligentes mandantes em nome de uma realpolitik cínica e baseada numa avaliação muito particular do que significa a exigência de “confiança”. Porque uma coisa são os arrebatamentos e excessos de rua ou os desmandos e arbitrariedades do terror, outra coisa é a arrogante desvalorização prática da “superioridade moral” que seria expectável de uma democracia ocidental do século XXI. Porque uma coisa são as declarações de voto sob protesto e os recuos mais ou menos (des)ordenados que vão ocorrendo, outra coisa são as humilhantes e profundas cicatrizes (para dizer o mínimo) que para sempre ficarão a marcar todo este processo.
(Napi, http://www.eleconomista.es)
(Ilias Makris, http://www.kathimerini.gr)
(Kipper
Williams, http://www.guardian.co.uk)
Em definitivo, o que de todo não tenho mesmo é feitio para tolerar olimpicamente tanto descoco, tanto despropósito, tanta coreografia. E, se compreendo, respeito e até me solidarizo com a difícil e melindrosa situação em que se encontra António Costa – confrontado com o reconhecimento cristalino e racional do que está em causa, com um “socialismo europeu” aflitivamente moribundo, com a necessidade de não afugentar um eleitorado desinformado e fácil de atemorizar, com a imprescindível manutenção de uma bem oleada distância perante as forças políticas à sua esquerda, com as prima-donas partidárias que o vão circundando e com uma certamente lúcida opção última pelo taticismo das alianças possíveis e do avanço por pequenos passos –, isso não me coíbe de bramar que, por mim, já basta de confusões e fingimentos!
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