domingo, 20 de dezembro de 2015

163, 159 + NACIONALISMOS



(Ou como mais uma votação pós ajustamentos de austeridade coloca o centro da política no parlamento)

(Nota: texto corrigido após resultados finais)

Com 100% dos votos escrutinados, as eleições espanholas fragmentam o parlamento nacional, mas centram neste último os desafios para a constituição de um governo. Três grandes blocos estão formados, mas paradoxalmente sem qualquer consistência no interior de cada um deles: 163 deputados para PP e CIUDADANOS, 159 para PSOE e a amálgama de agrupamentos PODEMOS e 26 deputados nacionalistas divididos em cinco forças políticas, duas na Catalunha, duas no País Vasco e uma nas Canárias, às quais se juntam dois deputados da Esquerda Unida.

Alguns factos merecem destaque particular.

O PP leva um rombo significativo em matéria de votos e deputados mas resiste mais do que imaginava aos danos colaterais da austeridade, largamente alicerçado na recuperação mesmo que desequilibrada da economia espanhola. Mas perde a arrogância da maioria absoluta, começou a noite eleitoral a fazer um discurso à Portas e a chamar perdedores aos seus adversários, incluindo o CIUDADANOS e terminou-a a apelar a uma grande coligação contra o PODEMOS.

O PSOE terá perdido a sua grande oportunidade de se afirmar como força política maioritária em Espanha, viu o PODEMOS morder-lhe os calcanhares em termos de votos e a humilhação desta força ganhar em territórios de causas nacionalistas (Catalunha e País Vasco, embora neste último caso apenas em termos de votos e não de deputados). O ter resistido ou ter perdido é a velha questão do copo meio cheio ou meio vazio. No meu entender, o PSOE está na charneira da irrelevância política ou da sua reafirmação.

O PODEMOS resistiu surpreendentemente à queda que vinha manifestando em termos de sondagens desde as europeias e passa a contar com cerca de 69 deputados para a negociação política no parlamento. É difícil antecipar se tem ainda crescimento ou se, pelo contrário, o terreno da negociação o vai desgastar.

O CIUDADANOS face às expectativas criadas é um grande derrotado a começar pela Catalunha. Os eleitores do PP terão resistido a uma mensagem de direita anticorrupção.

Finalmente, nada de muito relevante na frente nacionalista. Apenas com resultados para meditar na Catalunha. A formação representativa do PODEMOS, afirmando a necessidade da reorganização territorial do Estado espanhol, ganhou as eleições na região com uma diferença assinalável, com quase um milhão de votos, superando a Esquerda Republicana e a nova formação que sucede à Convergência e União de Mas.

Tudo baralhado, conclui-se que o bipartidarismo está significativamente tocado, mas não morto, afinal PP e PSOE junto têm mais de duzentos deputados, e os partidos emergentes estão longe ainda de poder marcar a negociação, embora possam influenciá-la. Não imagino como é que o PP possa governar. Cenarizemos, para uma maioria absoluta que exige pelo menos 176 deputados: 

  • PP + CIUDADANOS + Nacionalismo das Canárias (123 + 40 + 1 =163 deputados), insuficiente e não se vislumbra como é que Esquerda Unida, nacionalistas catalães e vascos possam mesmo por abstenção viabilizar a investidura de Rajoy;

  • PSOE + PODEMOS + Nacionalismo Vasco + Esquerda Unida (90 + 69 + 14 + 2 =175).

Admitindo que os nacionalismos catalães da Esquerda Republicana e da Democracia e Liberdade não pactarão com quem é contrário ao projeto independentista, a viabilidade de formação de uma maioria parlamentar passa à direita ou à esquerda pela captação de voto dos restantes partidos nacionalistas. Ironia das ironias.

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