Cada vez me é mais claro quão assassina para Portugal foi a decisão do PSD de inviabilizar o chamado PEC 4 em nome de um acesso ao poder facilitado e a qualquer custo. Agora que o caso Banif veio novamente trazer à luz do dia a centralidade do problema do sistema financeiro português, vale certamente a pena lembrar – até por tristíssima comparação – o modo como a Espanha não só escapou “por entre os pingos da chuva” a um desprestigiante resgate como também fez o trabalho de casa (uma autêntica “revolução”, bem patente nos quadros constantes deste post, seja nos bancos grandes e sistémicos seja nos mais pequenos mas regionalmente relevantes!) no seu setor financeiro com a preciosa ajuda dos milhares de milhões concedidos ao seu “não resgate”.
Apenas mais uma nota, que espero por ora final, a pretexto deste assunto: aprovado o orçamento retificativo com a abstenção de um Passos com “o rabo entre as pernas” (e a confirmação da abjeta lata de Portas), não deixo de me interrogar com certa angústia sobre se o Governo – que agiu no essencial bem e politicamente de um modo eficaz, designadamente para os seus interesses mais imediatos – esgotou correta e devidamente a sua margem de manobra negocial nos múltiplos domínios em presença (com o Banco de Portugal e o BCE, com a Direção-Geral da Concorrência e a Comissão Europeia em geral, com o Banco Santander e os outros possíveis compradores do Banif). Mas, morta Inês, o que talvez seja realmente oportuno e necessário revisitar passa por tudo o que neste País envolve estas matérias da chamada “estabilidade financeira” ou com elas interfere significativamente. Mas mesmo tudo! Porque as responsabilidades estão tão espalhadas por tanto lado – e não somente localizadas no governador do Banco de Portugal (chame-se ele Vítor Constâncio ou Carlos Costa ou o que mais adiante se verá) ou nos atrozes malefícios pouco escrupulosamente atribuídos às gestões políticas de Sócrates e Teixeira, de Passos e Gaspar ou de Portas e Albuquerque – que tudo tem de ser questionado e equacionado para que os males possam ser efetivamente percebidos e depois erradicados com tino e acerto. Sem esquecer as nomeações partidarizadas, as responsabilidades das gestões quotidianas das instituições, a definição estratégica a estas associada, uma abordagem séria do quadro de regulação e supervisão e respetivos limites ou um acompanhamento em moldes menos medievais dos laços e relações com a Europa (que não se limitam, embora também incorporem, às dimensões mais politicamente bramidas da obediência e subserviência versus contestação e guerrilha). Uma nova fase, uma vida nova, certamente que sim... mas quando começamos de facto a fazer o nosso TPC sem subterfúgios?
(Cristiano Salgado, http://expresso.sapo.pt)
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