Foi durante esta semana, na conferência de imprensa que se seguiu à reunião dos ministros do Ecofin, que o todo-poderoso e cada vez mais assumidamente intocável Wolfgang Schäuble resolveu atirar-se a Vítor Constâncio. Claro que o tema não o é por termos assistido a um ralhete alemão a um português – afinal, já assistíramos a Gaspar e Albuquerque rastejando perante o dito! – mas por assim nos depararmos com um ministro das Finanças europeu (alemão que seja) virado do avesso contra o vice-presidente de uma relevante instituição comunitária como o Banco Central Europeu, ademais definida como independente nos Tratados.
Eis um pequeno apanhado das missivas schäublianas dirigidas a Constâncio, que considerou tê-lo “provocado” ao defender o caráter crucial de novos passos em frente na integração financeira europeia (garantia comum de depósitos, em particular):
· You have made the provocation to me, therefore I am very outspoken on this.
(“Fez-me a provocação, portanto vou ser publicamente franco sobre isto”).
· Before you give us so much advice for the job we have to do as European legislators, you should care about the rules we have implemented in the ECB. And for banking supervision we have implemented a Chinese Wall.
(“Antes de nos dar tantos conselhos sobre o trabalho que temos que fazer como legisladores europeus, deveria preocupar-se com as regras que criamos para o BCE. E para a supervisão bancária, nós criamos uma Muralha da China”).
· Since Vice President Vitor Constâncio has given a much more enthusiastic reasoning than the Commission [on harmonization in the banking sector], I would like to start with repeating my general remark—let’s not forget the Chinese Wall in the ECB between monetary policy and banking supervision.
(“Visto que o vice-presidente Vítor Constâncio produziu um raciocínio muito mais entusiástico do que a Comissão [sobre harmonização no setor bancário], gostaria de começar repetindo a minha observação geral – não esqueçamos a Muralha da China no BCE entre política monetária e supervisão bancária”).
· We need urgently an amendment of the treaty to split banking supervision from monetary policy.
(“Precisamos urgentemente de uma emenda ao Tratado para separar a supervisão bancária da política monetária”).
A desinteligência e a controvérsia continuam ao rubro nas altas instâncias europeias, onde Schäuble berra cada vez mais alto e até já ameaça com o recurso aos tribunais europeus – European what?
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