(Uma homenagem justa do Banco de Portugal)
Afazeres profissionais em terras do Alvarinho, Monção e Melgaço,
impedir-me-ão amanhã de estar presente em Lisboa na sessão de homenagem que o
Banco de Portugal promove ao Dr. José Silva Lopes.
Silva Lopes representa o que o centro-esquerda tem de melhor em matéria de
economistas que passaram pela minha vida, sempre desassombrado, rigoroso, socialmente
sensível, impiedoso para as diferentes capturas do público pelo privado. Não
sendo um economista académico, Silva Lopes despertou junto de economistas prestigiados
na cena mundial a mais profunda admiração, simbolicamente representado com que
Paul Krugman fala do homenageado. Estou convencido que Richard Eckaus que estará
também amanhã em Lisboa para a sessão do Banco de Portugal trará também um testemunho
representativo desse respeito.
Paul Krugman dedicou ontem no seu blogue no New York Times um curioso post
à sua passagem por Lisboa, focado no tema da combinação entre espirais de dívida
e demográficas. O seu gráfico de partida foca-se numa realidade à qual tenho
dado neste blogue alguma relevância e que se prende com o comportamento da
população em idade ativa (15-64 anos) e o comportamento da curva deve
preocupar-nos. A ideia de Krugman é que a descida da população em idade ativa
fruto de fenómenos emigratórios provoca efeitos muito perniciosos em economias que
herdam um pesado fardo de dívida. Essa saída determina a tendência para um
maior ónus fiscal sobre os que permanecem ativos no país. É verdade que Krugman
assinala com razão que a curto prazo a emigração não tem qualquer efeito sobre a
base de impostos, pois se esses ativos não tivessem emigrado certamente estariam
desempregados. Mas a longo prazo a queda da população em idade ativa fruto de
emigração dificilmente poderá ser reposta e então o ónus a dívida tende a
abater-se sobre uma massa de população bem menor. É da queda futura do produto
potencial que falamos e isso implica um efeito dos ajustamentos penalizadores
de choques em uniões económicas e monetárias cuja consideração tem vindo a ser negligenciada.
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