domingo, 27 de dezembro de 2015

A DECADÊNCIA NAS PÁGINAS DE UM JORNAL



Acho que já foi neste espaço que me referi a Vasco Pulido Valente (VPV) como um dos melhores analistas/comentadores do País. Leitura que quero manter – sobretudo fundado na sua espessura cultural, na enxuta qualidade da sua escrita, na venenosa assertividade da sua mensagem e na valorização da dimensão histórica que tanto o diferencia –, não obstante o chorrilho de imbecilidades com que frequentemente nos vem brindando nos tempos mais recentes. De facto, também no passado a heterodoxia de VPV o levava a um ou outro momento de delírio, mas isso acontecia a espaços e logo era corrigido com o brilhantismo de duas ou três crónicas regeneradoras. Ao invés, a velhice e outros vícios estarão agora a tornar VPV não apenas mais amargo mas sobretudo bastante menos lúcido (to say the least...).

As escolhas (?) de VPV de “os melhores do ano” (ontem no “Público”) são um atentado à inteligência, à informação e ao mínimo de bom senso (à mistura com algumas vendetas de mera algibeira) que um septuagenário com responsabilidades é suposto exibir sob pena de mais não conseguir arrancar dos seus leitores do que os piores sentimentos dispensáveis a um mortal (dó e piedade).

Enquanto em Passos encontrou “tranquilidade e constância” e a transmissão ao país de “alguma confiança e algum ânimo”, descobriu em Portas o mérito de ter “equilibrado a coligação”. Como desmentir tanto desvario? Depois, conseguiu ver em Medina Carreira “uma exemplar clareza” e “a rudeza que ajuda a compreender a verdade”. Como contrapor a tanta falta de rigor? Em seguida, fez do presumido miúdo Adolfo que esteve com Pires na Economia o artífice que “presidiu ao maior aumento do turismo em Portugal” e ainda quis complementar tal bojarda com a ideia de que o dito “não gostou da política” e “voltou alegremente à sua profissão”. Como comentar tanta alarvidade?

Quanto às referências pela negativa, VPV resolveu atirar-se a Catarina Martins – que “sem nada” foi “o símbolo da vitória da insignificância” (uma insignificância que todavia venceu todos os debates eleitorais e que contribuiu significativamente para mexer “n’Isto” como há muito não acontecia!) – e a Ricardo Araújo Pereira – inventando, do alto da sua régia vontade, que “finalmente, já ninguém lhe acha graça”.

Menos contestáveis só as opções por Mariana Mortágua (pela sua prestação, embora partilhável com outros deputados digo eu, na comissão de inquérito ao grupo Espírito Santo) e pelos criadores do jornal online “O Observador” (porque “ainda aparece quem escreva português e, às vezes mesmo, bom português”), neste último caso misturando alhos com bugalhos (o que o terá levado a juntar um troglodita ideológico como Rui Ramos com os jornalistas verdadeiramente em funções? E porquê Ramos e não aquela politicamente traumatizada Fátima Bonifácio ou aquela reacionária tia de Cascais de nome Avillez ou mesmo um daqueles jovens aprendizes de feiticeiros que por lá vão também fazendo opinião?) no quadro da justa premiação de um trabalho sério como é – condicionamentos ideológicos e algumas cambalhotas à parte – o de David Dinis e José Manuel Fernandes.

Por tudo o que deixei dito no primeiro parágrafo, e por algumas coisas mais que agora não vêm ao caso, VPV merece respeito e até alguma condescendência. Mas, como se diz na minha provinciana terra, o que é demais é moléstia...

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