(Uma mescla de reflexões sobre tempos ainda não estruturados)
Por afazeres profissionais fiz hoje em Braga uma intervenção num seminário
da Comunidade Intermunicipal do Cávado (CIM Cávado), realizado no edifício do Generation,
no Campo da Vinha, destinado às tecnologias urbanas e onde funciona a dinâmica Start-up de Braga com os seus espaços de
incubação. O seminário destinava-se a fechar o ciclo de preparação da programação
Cávado 2020, no qual os municípios de Esposende, Barcelos, Braga, Vila Verde,
Amares e Terras do Bouro conceberam os seus investimentos e os da CIM para dar corpo
ao processo de contratualização daquele território com o Portugal 2020. Como
coordenador desses trabalhos a minha presença tornava-se óbvia, mas estava com
curiosidade sobre algumas intervenções que estavam programadas e para sentir o
ambiente institucional em torno daquele exercício de planeamento. Sou sempre de
opinião que é preferível trabalhar com os que aceitam participar nestas coisas do
que aspirar a grandes presenças que depois se esfumam na poeira dos
compromissos. Pois assim aconteceu. Estavam previstas intervenções do Daniel
Bessa na qualidade de responsável executivo da COTEC (afinal estávamos no coração
de um ecossistema de inovação emergente em torno da Universidade do Minho), do Reitor
desta Universidade Professor António Cunha e do próprio presidente da CCDR-N
Professor Emídio Gomes, apresentando já este último no programa aquele
asterisco que costuma significar na prática ausência. Pois nenhuma das três
personalidades se dignou comparecer. O que me leva à minha primeira reflexão típica
destes tempos: falta de respeito institucional pelas iniciativas
descentralizadas. Quem não quer comparecer nestas iniciativas ou tem expectativas
de impedimento poderia saudavelmente evitar a referência do seu nome nos programas.
Certamente se tomássemos conhecimento dos compromissos que afastaram tão doutas
personalidades do evento compreenderíamos melhor a valoração dos custos de
oportunidade que passam por suas cabeças. Não estiveram, paciência. Mas a vulgarização
das presenças não confirmadas é sinal do desrespeito dos tempos.
No almoço com um colega de trabalho na QP, num restaurante de balcão ou de barra
que vão escasseando por aí (o Silvas Bar bem no Centro Histórico de Braga que
bem recomendo), o ambiente é agradável e as conversas cruzam-se, sob a batuta diligente
do dono que regula todo o movimento e ambiente. Numa dessas conversas cruzadas
com clientes ao meu lado esquerdo, o dono do restaurante saiu-se com esta: “O
melhor período foi quando não tivemos governo em funções!”. A minha primeira
reflexão foi imaginar que o homem não morreria de amores pelo governo de Costa.
Mas o desenvolvimento da conversa esclareceu-me que não era essa a intenção da
tirada. Afinal o que ele queria dizer é que mal o governo tomou posse começaram
a surgir os tais esqueletos do armário. Mas que sabedoria!
O caso Banif começa a libertar odores bem pouco agradáveis, sobretudo pelo
que este caso representa de relacionamento institucional bem pouco claro e transparente
entre a anterior ministra das Finanças (que não é seguramente flor que se
cheire com volúpia) e o governador do Banco de Portugal que parece acumular infelicidades
nos tempos mais recentes. Se é verdade que os analistas especializados não
falam de crise de liquidez na instituição, não se entendem bem nem as razões do
agravamento da situação, nem as que explicarão que o aviso da Price Waterhouse
não tenha sido corretamente avaliado. Recuso-me a acreditar que a Comissão
Europeia tenha interesse objetivo em criar uma situação de instabilidade exigindo
pelas regras da concorrência e por isso a posição da dita Comissão nunca poderia
constituir uma surpresa. Resultado de tudo isto, o caso Banif vai ser o
primeiro teste ao relacionamento institucional entre Carlos Costa e o governo
de Costa, com a maléfica Maria Luís a gozar de bancada. Cheira-me que uma vez
mais teremos uma venda ao desbarato, sobretudo no cenário em que a mesma
contemple no mesmo pacote os eventuais produtos tóxicos que o banco acumulou. O
que será dizer que desta vez ninguém, espero eu, tenha o desplante de que tudo
será feito com o propósito de não provocar danos aos contribuintes. Imagino que
Sérgio Monteiro tivesse uma solução miraculosa qualquer de venda, mas creio que
desta vez não terá condições para prolongar o seu vínculo. No fundo das coisas,
o Banif sofreu para ambiente eleitoral de 4 de outubro uma pintadela para
impressionar eleitor incauto e desprevenido mas os problemas já lá estavam e a
tinta começou a saltar. Mais um sinal dos tempos: vale tudo para ficar bem na
fotografia, sobretudo quando a contestação não é organizada.
Já depois do evento tomei conhecimento de um facto urbano que julgava impossível
de acontecer. Também em Braga, uma zona do saneamento da cidade terá
experimentado um grande entupimento, simplesmente porque os canos estariam obstruídos
por instalações não autorizadas de fibra ótica. Pela notícia do Público, percebe-se
que se trataria de “cerca de 2,5 quilómetros do ‘anel’ de fibra ótica
instalados em condutas de efluentes, entre o polo da Universidade do Minho e o
Parque de Exposições”. Imagino que não seja uma boa prática. Mas o sinal dos tempos
é a mais profunda indisciplina que deve reinar no subsolo das principais
cidades, sem rei nem roque, e sem uma efetiva regulação que teria de ser municipal,
claro está.
Finalmente, estou particularmente à vontade para enunciar o último caso. Não
morro de amores pela personagem Rui Rio e a minha avaliação da classe política
não é tão má que justifique por condescendência considerar Rio um exemplo do
que deveria ser a classe política. A personagem esgotar-se-ia por si própria se
não beneficiar de enchimentos exógenos e vários já aconteceram no passado
relativamente recente. Pois, ontem a SAD do FCP resolveu encher mais a
personagem com uma proibição objetiva da sua participação no Porto Caixa num
programa comemorativo da SIC, com edição especial da Quadratura do Círculo. Não
discuto a decisão em si da SAD do Porto que lá terá as suas razões por mais
obtusas e canhestras que elas me pareçam. Mas a partir de agora Rio tem mais
uma no currículo. Pode sempre apresentar-se como alguém a que lhe foi coarctada
a liberdade de participação num dado programa realizado num determinado espaço,
privado diga-se. Muito gostaria de ouvir Pacheco Pereira sobre esta matéria,
sabendo que era seu convidado substituto no programa e sobretudo porque é um grande
apoiante de Rio especialmente nas diatribes contra o futebol na Cidade. Sinal
dos tempos: há personagens que só com enchimentos artificiais vão sobrevivendo
e há sempre incautos e desprevenidos que vão proporcionando esses enchimentos.
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