(Janusz Majewski – “Mayk”, http://www.sydsvenskan.se)
O economista irlandês Colm McCarthy (CMC), que é um dos animadores de um blogue várias vezes citado neste espaço (“The Irish Economy”), postou por estes dias em torno de uma matéria relevante muito para além da semântica estrita, que aliás também valoriza recorrendo a George Orwell e a um seu ensaio de 1946 em que escreve: “O grande inimigo da linguagem clara é a insinceridade. Quando há um hiato entre os nossos verdadeiros objectivos e os objectivos declarados, voltamo-nos como que instintivamente para as palavras longas e para as expressões gastas, como um choco a largar tinta. No nosso tempo, ‘não entrar na política’ é coisa que não existe. Todas as questões são questões políticas, e a própria política é uma massa de mentiras, evasões, loucura, ódio e esquizofrenia. Quando a atmosfera geral é má, a linguagem tem de sofrer.”
A questão que o dito autor pretende sublinhar tem sobretudo a ver com a Zona Euro enquanto “União Monetária” que de facto não é. Assim diz ele: “Os protagonistas do projeto inicial, da subsequente gestão e da pretensa reforma da Zona Euro referem-se invariavelmente ao sistema como uma ‘união monetária’. O mesmo fazem os comentadores académicos, incluindo os autores da recente peça da Vox sobre as origens da crise. Seja intencional ou inconsciente, tal é um abuso de linguagem.”
De seguida, CMC reforça a sua ideia explicitando que “as uniões monetárias não experimentam encerramentos seletivos de bancos, a reintrodução de controlos de câmbio ou numerosas outras manifestações de fragmentação financeira que ocorreram antes e depois das ‘reformas’ da Zona Euro” e que a precisão de linguagem importa já que, enquanto a Alemanha e os Estados Unidos são uniões monetárias (salienta a “responsabilidade federal pela supervisão bancária, pela resolução de bancos e pela proteção dos credores bancários”), a Zona Euro não passa daquilo que designa por uma “área monetária comum”. Cito: “A Zona Euro, em contraste, foi estabelecida em 1999 como não mais do que uma área monetária comum, com um ‘banco central’ apenas responsável pela política monetária no seu conjunto, na prossecução de uma meta de inflação. Descrevê-la como uma ‘união monetária’ é negar que existe qualquer distinção entre uma área monetária comum e uma união monetária. Se a Zona Euro fosse realmente uma união monetária em 2008, a história da crise teria sido muito diferente.”
E conclui assaz certeiramente nos seguintes termos: “O perigo é que a descrição implacável da Zona Euro como uma união monetária desvia a atenção da inconveniente verdade de que não é e da falta de vontade política para fazer com que seja”.
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