domingo, 13 de dezembro de 2015

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE INFORMAÇÃO RECENTE DO BANCO DE PORTUGAL




(Ideias relevantes para compreender sobre que realidade irá intervir o novo governo de António Costa)

O Boletim Económico do Banco de Portugal de dezembro de 2015, lido em conjunto com o estudo publicado em novembro pela mesma instituição “Análise setorial das empresas não financeiras 2010-2015” com base em dados da Central de Balanços que sistematizam a Informação Empresarial Simplificada (IES) a que as empresas nacionais são obrigadas, fornece-nos elementos de análise pertinente para compreendermos sobre que realidade económica o governo de António Costa vai intervir.

A valia da informação agora publicada é muito diversificada e vai muito para além das matérias que sobretudo o Boletim de dezembro suscitou junto da imprensa diária e da económica mais especializada. De facto, se é um facto que o referido Boletim demonstra claramente que a atividade económica legada pela governação PAF estava longe de revelar o brilhantismo que a esfuziante campanha eleitoral da coligação manifestou, com uma desaceleração face ao primeiro semestre de 2015, há na informação publicada outros elementos de grande valia para uma governação futura.

A desaceleração observada da procura interna manifestou-se sobretudo em componentes com maior peso de importações. A desaceleração das compras de bens duradouros, particularmente de automóveis, parece querer traduzir alguma interrupção do ânimo dos consumidores manifestada no 1º semestre. Os números sugerem que as famílias terão diferido compras destes bens para melhor compreender o estado futuro da situação económica global. Já algo mais preocupante foi a desaceleração do investimento em máquinas e equipamentos, o que denota alguma instabilidade das expectativas empresariais, creio que essencialmente determinada pelas perturbações observadas na procura externa. Se é verdade que esta contenção de consumos de bens duradouros e de investimento em máquinas e equipamentos teve pelo menos o condão de frenar importações, a questão é que desacelerar importações por via de menos crescimento não é uma solução duradoura. Mas o que marca o terceiro trimestre do ano que caminha para o seu fecho é a evolução menos favorável das exportações. Esta deterioração que as previsões para 2016 e 2017 apresentadas pelo BP julgam transitória acontece não o podemos ignorar num contexto em que a depreciação do euro continua a favorecer as exportações nacionais para fora da zona euro, mercados em que assistimos a um aumento de quota das exportações portuguesas. Esta deterioração tem duas componentes esperadas: a dos bens energéticos na sequência de paragens de refinarias e a dos não energéticos com a crónica anunciada dos problemas da economia angolana. A vulnerabilidade das exportações portuguesas em relação ao mercado angolano tem de ser combatida. Mercados como o angolano, salvo informação mais aprofundada, constituem oportunidades de escoamento de capacidade produtiva não utilizada, não mais do que isso. Mas, dificilmente e sem uma profunda transformação estrutural daquela economia que não se vislumbra a curto e médio prazo, não são os mercados estimulantes de que a transformação do perfil de especialização da economia portuguesa necessita. Alguns produtos de luxo, como os vinhos de faixas elevadas de preços, agradecem as virtualidades do mercado angolano, mas até estas a rarefação de divisas estrangeiras que vai atingir a economia angolana vai comprometer.

Mas nas previsões do Banco de Portugal está a certeza positiva de que o peso das exportações no PIB continuará a subir, estimando-se que em 2017 possa atingir 45%. Este é o dado mais positivo, tendo em conta que mais empresas orientadas para o mercado externo significará aumentos de produtividade média, sabendo que as empresas com orientação para o mercado externo são mais eficientes.

E nesta matéria é que as informações tratadas pela Central de Balanços do BP são importantes. De acordo com a classificação do BP, empresas exportadoras são as que em que pelo menos 50% das suas vendas se orientam para o mercado externo ou em que pelo menos 10% do seu volume de negócios provém das exportações superando estas os 150.000 euros. Segundo dados do BP e de acordo com aquela classificação, de 2006 a 2014, em média, 40% das empresas nacionais são exportadoras, de que aproximadamente um terço atingia pelo menos 50% do seu volume de negócios em exportação. Mas um volume considerável das exportações continua a depender de um número relativamente reduzido e estável de empresas. Não devemos ignorar que das 390 mil empresas em atividade em Portugal, em 2014, 89% eram microempresas, com as grandes empresas a gerarem a maior parcela do volume de negócios apesar de não representarem mais do que 0,3% do número de empresas. Não convém assim ignorar a nossa pequenez.

Finalmente, o Boletim Económico do BP vem confirmar através de estimação própria quão importante é a intervenção do BCE para a economia portuguesa tendo em conta as taxas de juro que ela nos proporciona. A estimação do BP é a de menos 2,5 pontos percentuais para as taxas entre 2 e 10 anos quando comparadas com as taxas que tenderiam a fixar-se para Portugal sem a intervenção do BCE e de acordo com os dados estruturais da economia portuguesa.

Na crueza da estimação do BP, por mais cautelas que qualquer exercício econométrico aconselhe, está a ideia de que o fundamental vai sendo jogado na questão europeia, com saídas limpas ou menos asseadas.

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