(Frágeis, sem dúvida, mas pelo menos uma oportunidade para construir algo
de mais sólido)
A França regressou por alguns instantes, fugidios dada a pressão estrutural
dos acontecimentos, a uma centralidade de pensamento e decisão que certamente
alguns julgavam já não ser possível.
Primeiro, a diplomacia francesa, apoiada por um grande rigor técnico e científico
e por uma agilidade negocial exemplar, conseguiu contribuir para um acordo na
conferência do clima que, pelo menos, não desnobrece a comunidade internacional.
Quando o secretário de Estado americano John Kerry afirma que a França
galvanizou a comunidade internacional e quando a África do Sul salientou a sua
satisfação pelos resultados alcançados, essas duas simples afirmações ilustram
bem como a diplomacia francesa não deixou fugir a oportunidade de se afirmar
finalmente aos olhos de todos.
Segundo, o PS francês e a direita conseguiram entendimentos de desistência mútua
para barrar a ascensão da Front Nationale e de Marine LePen, embora esteja convencido
que as verdadeiras contas serão travadas nas eleições para a presidência
francesa, que julgo ser a verdadeira meta da FN. O mapa regional da França
aparece assim repartido entre a esquerda e a direita. A Europa agradece esta
barragem mas os grandes embates ficarão para mais tarde.
Na prática, duas barragens que não são propriamente dois diques resistentes
a toda a pressão dos acontecimentos. Funcionarão como travões ao aquecimento
nacional e ao nacionalismo xenófobo se os resultados agora alcançados tiverem
consequências e algumas coisas fundamentais mudarem. À sua maneira a França
assumiu-se e recuperou alguma dignidade. De mal o menos.
Sem comentários:
Enviar um comentário