domingo, 13 de dezembro de 2015

LES DEUX BARRAGES




(Frágeis, sem dúvida, mas pelo menos uma oportunidade para construir algo de mais sólido)

A França regressou por alguns instantes, fugidios dada a pressão estrutural dos acontecimentos, a uma centralidade de pensamento e decisão que certamente alguns julgavam já não ser possível.

Primeiro, a diplomacia francesa, apoiada por um grande rigor técnico e científico e por uma agilidade negocial exemplar, conseguiu contribuir para um acordo na conferência do clima que, pelo menos, não desnobrece a comunidade internacional. Quando o secretário de Estado americano John Kerry afirma que a França galvanizou a comunidade internacional e quando a África do Sul salientou a sua satisfação pelos resultados alcançados, essas duas simples afirmações ilustram bem como a diplomacia francesa não deixou fugir a oportunidade de se afirmar finalmente aos olhos de todos.

Segundo, o PS francês e a direita conseguiram entendimentos de desistência mútua para barrar a ascensão da Front Nationale e de Marine LePen, embora esteja convencido que as verdadeiras contas serão travadas nas eleições para a presidência francesa, que julgo ser a verdadeira meta da FN. O mapa regional da França aparece assim repartido entre a esquerda e a direita. A Europa agradece esta barragem mas os grandes embates ficarão para mais tarde.

Na prática, duas barragens que não são propriamente dois diques resistentes a toda a pressão dos acontecimentos. Funcionarão como travões ao aquecimento nacional e ao nacionalismo xenófobo se os resultados agora alcançados tiverem consequências e algumas coisas fundamentais mudarem. À sua maneira a França assumiu-se e recuperou alguma dignidade. De mal o menos.

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