(Breve regresso, talvez por agora episódico, à realidade nacional!)
Não há ainda massa crítica de informação que justifique o interesse deste
blogue pela realidade nacional. O governo de António Costa parece ter ultrapassado
uma eventual tremideira dos primeiros dias. O executivo tem coerência e consistência,
os ministros estão em fase de centramento de dossiers e têm já à perna a
estruturação do orçamento de 2016. Até agora tenho visto posições sensatas,
correspondentes a ideias de programa e de acordo parlamentar que já tinham sido
confirmadas, comunicação simples do que há para fazer e está a ser feito. E
precisaremos de mais tempo de governação para aferir da consistência das
escolhas que vão ser feitas e do modo como será vencido o embate com as
instituições europeias. Mais ainda, a matéria de produção legislativa na
Assembleia da República não tem também massa crítica para ser observado se
ganha a perceção de que se trata de um governo do PS com apoio parlamentar à
esquerda ou se pelo contrário a hipótese possível de um governo de esquerda orientado
pela produção legislativa da Assembleia.
A matéria mais relevante, para além das primeiras, visíveis e públicas,
animosidades do PSD mais trauliteiro face a Pacheco Pereira, é seguramente a
dos esqueletos que vão sendo descobertos a partir dos últimos resquícios de
governação do PAF. Se a questão da sobretaxa mostra bem quanto o secretário de
Estado Paulo Núncio era um valente sonso, mesmo ao estilo do CDS mais pedante e
pretensamente competente, perfeitamente coberto, salvo seja, pela ministra das
Finanças Maria Luís, o esqueleto mais relevante é sem dúvida a revisão do
quadro macroeconómico que o Banco de Portugal acaba de publicar.
A integração nas perspetivas macroeconómicas do 3º trimestre da governação
de 2015 mostra à evidência como a campanha eleitoral do PAF foi estruturada em
torno de grossas mentiras, de despudorados exercícios de embelezamento de uma
realidade macroeconómica que começa a revelar-se bem mais perversa do que os
sorrisos triunfantes de Passos e Portas faziam crer. Falsamente embalada pelos
dados homólogos em relação a 2014, a coligação apresentou-se em eleições com um
quadro macroeconómico que o Banco de Portugal vem agora denegrir, com o
importante elemento de ser concebido pressupondo que as políticas da coligação
anterior estariam ainda em vigor. Afinal, a previsão do Banco de Portugal mostra
uma efetiva degradação desse quadro ao longo da parte final de 2015,
determinada em grande linha pelas expectativas mais negras a nível mundial. Bastou
assim uma ligeira degradação do quadro mundial, designadamente os problemas das
economias emergentes e a não dissipação dos riscos deflacionários na Europa,
para que toda a prosápia mais de Portas do que de Passos se esboroasse por
completo. A ideia de que bastará o PS não mexer para que a trajetória do fim do
défice excessivo se consuma ficará entre os anais dos mais descarados embustes políticos
dos últimos tempos, o qual, como não podia deixar de ser, teria de pertencer a
uma mente tão “brilhante” como a de Marco António Costa. Paulo Trigo Pereira
mostrou hoje no Parlamento que se a execução orçamental do último trimestre de
2015 for igual à de trimestre homólogo de 2014 o défice passará para 3,1%,
colocando os deputados da anterior maioria na defensiva.
A tara manipuladora e convulsiva da governação anterior, acolitada por um
presidente da República que também se colou a essa perspetiva (gostaria de
conhecer a posição do presidente em trajetória para a Coelha sobre a revisão em
baixa do Banco de Portugal), manifesta-se a
posteriori em toda a sua magnificência. Só espero que o Governo seja claro
e conciso na denúncia dessa mentira compulsiva, para se concentrar nos
verdadeiros desafios da governação, pois se é importante denunciar todos os esqueletos
que saltem dos armários, mais importante ainda é demonstrar que é possível
fazer diferente, não escondendo a dimensão dos reais problemas aos portugueses.
Várias vezes aqui o expressamos. Aquela gente não era de confiança. E estão
a prová-lo mesmo fora da governação, simplesmente através do lastro que
deixaram atrás de si.
P.S E nesta semana não dei conta que se tivesse falado de Sócrates!
P.S E nesta semana não dei conta que se tivesse falado de Sócrates!
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