quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

OS ESQUELETOS NOS ARMÁRIOS DA GOVERNAÇÃO PAF




(Breve regresso, talvez por agora episódico, à realidade nacional!)

Não há ainda massa crítica de informação que justifique o interesse deste blogue pela realidade nacional. O governo de António Costa parece ter ultrapassado uma eventual tremideira dos primeiros dias. O executivo tem coerência e consistência, os ministros estão em fase de centramento de dossiers e têm já à perna a estruturação do orçamento de 2016. Até agora tenho visto posições sensatas, correspondentes a ideias de programa e de acordo parlamentar que já tinham sido confirmadas, comunicação simples do que há para fazer e está a ser feito. E precisaremos de mais tempo de governação para aferir da consistência das escolhas que vão ser feitas e do modo como será vencido o embate com as instituições europeias. Mais ainda, a matéria de produção legislativa na Assembleia da República não tem também massa crítica para ser observado se ganha a perceção de que se trata de um governo do PS com apoio parlamentar à esquerda ou se pelo contrário a hipótese possível de um governo de esquerda orientado pela produção legislativa da Assembleia.

A matéria mais relevante, para além das primeiras, visíveis e públicas, animosidades do PSD mais trauliteiro face a Pacheco Pereira, é seguramente a dos esqueletos que vão sendo descobertos a partir dos últimos resquícios de governação do PAF. Se a questão da sobretaxa mostra bem quanto o secretário de Estado Paulo Núncio era um valente sonso, mesmo ao estilo do CDS mais pedante e pretensamente competente, perfeitamente coberto, salvo seja, pela ministra das Finanças Maria Luís, o esqueleto mais relevante é sem dúvida a revisão do quadro macroeconómico que o Banco de Portugal acaba de publicar.

A integração nas perspetivas macroeconómicas do 3º trimestre da governação de 2015 mostra à evidência como a campanha eleitoral do PAF foi estruturada em torno de grossas mentiras, de despudorados exercícios de embelezamento de uma realidade macroeconómica que começa a revelar-se bem mais perversa do que os sorrisos triunfantes de Passos e Portas faziam crer. Falsamente embalada pelos dados homólogos em relação a 2014, a coligação apresentou-se em eleições com um quadro macroeconómico que o Banco de Portugal vem agora denegrir, com o importante elemento de ser concebido pressupondo que as políticas da coligação anterior estariam ainda em vigor. Afinal, a previsão do Banco de Portugal mostra uma efetiva degradação desse quadro ao longo da parte final de 2015, determinada em grande linha pelas expectativas mais negras a nível mundial. Bastou assim uma ligeira degradação do quadro mundial, designadamente os problemas das economias emergentes e a não dissipação dos riscos deflacionários na Europa, para que toda a prosápia mais de Portas do que de Passos se esboroasse por completo. A ideia de que bastará o PS não mexer para que a trajetória do fim do défice excessivo se consuma ficará entre os anais dos mais descarados embustes políticos dos últimos tempos, o qual, como não podia deixar de ser, teria de pertencer a uma mente tão “brilhante” como a de Marco António Costa. Paulo Trigo Pereira mostrou hoje no Parlamento que se a execução orçamental do último trimestre de 2015 for igual à de trimestre homólogo de 2014 o défice passará para 3,1%, colocando os deputados da anterior maioria na defensiva.

A tara manipuladora e convulsiva da governação anterior, acolitada por um presidente da República que também se colou a essa perspetiva (gostaria de conhecer a posição do presidente em trajetória para a Coelha sobre a revisão em baixa do Banco de Portugal), manifesta-se a posteriori em toda a sua magnificência. Só espero que o Governo seja claro e conciso na denúncia dessa mentira compulsiva, para se concentrar nos verdadeiros desafios da governação, pois se é importante denunciar todos os esqueletos que saltem dos armários, mais importante ainda é demonstrar que é possível fazer diferente, não escondendo a dimensão dos reais problemas aos portugueses.

Várias vezes aqui o expressamos. Aquela gente não era de confiança. E estão a prová-lo mesmo fora da governação, simplesmente através do lastro que deixaram atrás de si.

P.S E nesta semana não dei conta que se tivesse falado de Sócrates!

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