(Reflexões
sobre mais um dia de trabalho no Algarve)
Escrevo num aeroporto de Faro já marcado pela
sazonalidade. Praticamente deserto enquanto espero pelo voo da Ryanair para o
Porto, sistematizo algumas reflexões sobre um estimulante dia de trabalho, discutindo
com personalidades da Região o posicionamento da Comunidade Intermunicipal AMAL,
a única associação de municípios no continente cujo território de intervenção
coincide com o da Região.
O alcance destas notas está para aquém do registo profissional
desse trabalho que não é para a qui chamado e entra no domínio da confidencialidade.
Mas na reunião de hoje houve uma matéria que é do foro da relação crítica entre
o público e o privado e que por isso atrai neste espaço a minha atenção.
Dizia hoje o Dr. Vítor Neto, empresário, intelectual e
pensador da Região, um pensamento que muito aprecio e que dava conta do declínio
político da Região, anotando em simultâneo o agravamento de um problema: os
Algarvios não têm hoje acesso a uma informação credível e não filtrada sobre si
próprios e sobre as atividades, projetos, boas e más práticas, esperanças e
desafios com que se confrontam. Num círculo vicioso com a fragmentada consciência
regional da Região, a ausência dessa informação, vinda de fora para dentro, ou
simplesmente construída a partir de dentro, inviabiliza a formação de qualquer
perspetiva identitária e convida à atomização, ao espertismo do baixo da mesa, à
destruição de recursos por sobreposições desnecessárias. Quando a Região sai no
Correio da Manhã, pode inferir-se que isso aconteceu porque a linguagem das vendas
ditou algo de mais alto e alguma fragilidade foi registada.
Dei comigo a pensar que a consolidação da democracia se
faz também com construções identitárias sólidas e não filtradas, emergidas desejavelmente
das próprias sociedades que se dão a conhecer, revelando a sua capacidade de
iniciativa.
A imagem que abre este post é uma pequena e singela homenagem
a uma infraestrutura transversal do Algarve, a ACTA, Companhia de Teatro do Algarve, que para
ganhar notoriedade a tem de conquistar em representações em Lisboa ou em Almada.
Tenho uma particular admiração para quem resiste nestes territórios apesar do seu
declínio político. Que a história vos recompense.
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