quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

PODE UMA REGIÃO SOBREVIVER SEM INFORMAÇÃO SOBRE SI PRÓPRIA?




(Reflexões sobre mais um dia de trabalho no Algarve)

Escrevo num aeroporto de Faro já marcado pela sazonalidade. Praticamente deserto enquanto espero pelo voo da Ryanair para o Porto, sistematizo algumas reflexões sobre um estimulante dia de trabalho, discutindo com personalidades da Região o posicionamento da Comunidade Intermunicipal AMAL, a única associação de municípios no continente cujo território de intervenção coincide com o da Região.

O alcance destas notas está para aquém do registo profissional desse trabalho que não é para a qui chamado e entra no domínio da confidencialidade. Mas na reunião de hoje houve uma matéria que é do foro da relação crítica entre o público e o privado e que por isso atrai neste espaço a minha atenção.

Dizia hoje o Dr. Vítor Neto, empresário, intelectual e pensador da Região, um pensamento que muito aprecio e que dava conta do declínio político da Região, anotando em simultâneo o agravamento de um problema: os Algarvios não têm hoje acesso a uma informação credível e não filtrada sobre si próprios e sobre as atividades, projetos, boas e más práticas, esperanças e desafios com que se confrontam. Num círculo vicioso com a fragmentada consciência regional da Região, a ausência dessa informação, vinda de fora para dentro, ou simplesmente construída a partir de dentro, inviabiliza a formação de qualquer perspetiva identitária e convida à atomização, ao espertismo do baixo da mesa, à destruição de recursos por sobreposições desnecessárias. Quando a Região sai no Correio da Manhã, pode inferir-se que isso aconteceu porque a linguagem das vendas ditou algo de mais alto e alguma fragilidade foi registada.

Dei comigo a pensar que a consolidação da democracia se faz também com construções identitárias sólidas e não filtradas, emergidas desejavelmente das próprias sociedades que se dão a conhecer, revelando a sua capacidade de iniciativa.

A imagem que abre este post é uma pequena e singela homenagem a uma infraestrutura transversal do Algarve, a ACTA, Companhia de Teatro do Algarve, que para ganhar notoriedade a tem de conquistar em representações em Lisboa ou em Almada. Tenho uma particular admiração para quem resiste nestes territórios apesar do seu declínio político. Que a história vos recompense.

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