terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O FIM DO CHAVISMO?




(Ou como a cópia rasca é sempre mais vulnerável do que o original mesmo que imperfeito)

A crónica anunciada da falência do chavismo venezuelano era há muito conhecida. Estava traçada no modelo económico deixado por Hugo Chávez e retomado de forma ainda mais atamancada pela réplica do sucessor Maduro. Face aos estrangulamentos estruturais do modelo, fortemente agravados pela prolongada descida do preço do petróleo, com os próprios sauditas a não restringir produção, nem a beatificação imagética de Chávez salvaria Maduro, embora este tudo tenha explorado para cavalgar durante algum tempo a imagem de El Comandante.

O chavismo, tal como todos os populismos mais ou menos revolucionários de esquerda, com diferenciações entre eles, mas com similaridades muito fortes, afirma-se inicialmente pelas melhorias de condições de vida das populações mais desfavorecidas, regra geral sobre-exploradas pelos regimes que o populismo combateu e derrotou. É dessa melhoria generalizada de condições de vida, financiadas neste caso pelas receitas do petróleo, que é construída a base popular de apoio do populismo de esquerda. O problema é que essa melhoria efetiva e generalizada das condições de vida é, em regra, acompanhada pela emergência do nepotismo e concentração de privilégios que vão sendo financiados enquanto o El Dorado persistir. No caso venezuelano, esta interação entre aumento do bem-estar material dos mais desfavorecidos e o aprofundamento do nepotismo de esquerda tinha os dias contados, sobretudo porque a partir de certo momento o ritmo de melhorias dos mais pobres começa a desacelerar e o nepotismo nem por isso.

Acresce que, no caso venezuelano, a burguesia industrial e compradora permaneceu ativa, mesmo que acomodada entre negócios no exterior e negócios internos, e resistiu tanto mais aos avanços do chavismo quanto menos esse chavismo conseguiu introduzir na economia venezuelana uma menor vulnerabilidade face às receitas do petróleo. Essa burguesia, cuja população mais jovem foi dominantemente educada nas melhores universidades americanas, foi resistindo, lamentando-se sempre, mas não deixando de assegurar os seus negócios, convicta de que seria por via da concentração petrolífera que o regime iria baquear. E depois convicta também de que a auréola original de Hugo Chávez não seria capitalizada por uma réplica mais tosca. É claro que uma deriva autoritária da réplica mais tosca poderia colocar o país em estado de sítio, não sabendo ainda em que termos o chavismo de Maduro reagirá à perda do controlo parlamentar e até a uma eventual alteração do quadro constitucional, pois anuncia-se que a diversificada oposição terá mais de 2/3 dos assentos parlamentares.

A crónica anunciada da queda dos nepotismos de esquerda é também conhecida, salteada com mais ou menos violência. Mas pelo que é conhecido, regra geral o grande perdedor destes processos é a deterioração das condições de vida dos mais desfavorecidos que, desprotegidos, pouco qualificados, tenderão a perder posições nessa transição para uma economia de mercado não necessariamente comandada pelas receitas do petróleo. O período de tempo que normalmente medeia até o novo funcionamento da economia lhes retribuir de novo parte do que o populismo de esquerda lhes concedeu é normalmente muito longo. Mas o determinismo em história não existe. Existem apenas ensinamentos que podem constituir regularidades, mas não necessariamente.

Para observação futura.

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