Se me fosse dado opinar sobre os acontecimentos e as personalidades do ano de 2015, para onde me inclinaria então? Pois, e no plano internacional, o acontecimento do ano de 2015 terá sido a meu ver o regresso em força do terror indiscriminado à Europa e, em particular, à França e à sua bela e mítica capital. Confirmando o que já era sabido em relação ao caráter global e largamente aleatório das ameaças que pesam sobre a liberdade e o modo de vida dos cidadãos anónimos das sociedades democráticas. Os atentados e a matança de Paris simbolizam, assim, a força dessa cada vez mais cega, descontrolada e imprevisível violência.
(Patrick Chappatte, http://www.iht.com)
Por outro lado, e ainda a nível internacional, este seria um ano em que apontaria uma dessas figuras coletivas que descrevi no meu último post. A onda maciça de refugiados, na sua maioria provenientes de uma Síria em guerra há quatro anos, que vimos acorrer aos milhares aqui à porta das fronteiras europeias em busca de paz e novos horizontes de vida fez, do meu ponto de vista, desses homens, mulheres e crianças um novo tipo de protagonistas na cena mundial. Tanto mais quanto se depararam com uma Europa cuja incapacidade política de se organizar para uma resposta adequada a tão impressionante fenómeno foi ao ponto de poder pôr em questão uma das suas conquistas históricas (a liberdade de circulação de pessoas consagrada no chamado “espaço Schengen”). Do lado positivo, ficam apenas as reações humanitárias avulsas desenvolvidas por elementos ou entidades da sociedade civil de muitos países europeus em relação às dramáticas atribulações com que se defrontaram esses migrantes e, simbolicamente, a comoção (que não deixa de ter os seus laivos de lágrimas de crocodilo) manifestada pela generalidade da opinião pública internacional perante a imagem de uma criança curda afogada numa praia turca.
(Christian Adams, http://www.telegraph.co.uk)
(Michael Kontouris, http://www.efsyn.gr)
Dito isto, e se de todo em todo, fosse instado a fazer uma escolha obrigatoriamente personalizada seria então Alexis Tsipras o meu eleito. Com efeito, o ano de 2015 conheceu a vitória nas urnas do seu radicalizado Syriza (uma inédita vitória eleitoral conseguida por um partido de extrema-esquerda), a sua chegada ao poder, o seu combate contra as imposições do diretório europeu e alemão, a sua reafirmação política em referendo aos cidadãos gregos, a continuação do seus esforços antiausteritários num Verão dramático que ficará a marcar uma das grandes vergonhas da Europa do nosso tempo e, por fim, a sua aparente ou realista cedência aos credores e consequente “normalização” – todo um inusitado e estranho processo que creio ainda ter escondidas dentro de si muitas dimensões que estão por conhecer e interpretar.
(Ilias Makris, http://www.kathimerini.gr)
(Ingram Pinn, http://www.ft.com)
Derivando agora para o espaço nacional, direi que as escolhas se apresentam bem mais simples, especialmente se não se quisermos seguir na esteira de Ricardo Araújo Pereira e escolher “o pin de Passos” que nos foi sendo compulsivamente imposto durante os primeiros nove meses do ano. A figura portuguesa de 2015 só poderá ter sido aquele homem que chegou a ser considerado como em vias de extinção política, primeiro, e o grande derrotado das eleições legislativas, depois, e que acabaria – qual Cinderela (como surge glosado na imagem imediatamente abaixo) – cortejado por todas as forças políticas e a assumir o lugar de primeiro-ministro numa magistral jogada de ação política exibida em direto perante um País incrédulo: António Costa.
(André Carrilho, http://www.dn.pt)
(Cristina Sampaio, http://expresso.sapo.pt)
E, dentro desta perspetiva, o acontecimento nacional do ano só pode decorrer naturalmente da opção precedente. Os acordos do Partido Socialista à sua esquerda, concretizados com enorme mérito associável aos líderes dos respetivos partidos (Catarina e Jerónimo), constituíram não apenas um conseguimento improvável e inédito mas marcaram também o advento de uma oportunidade de mudança por que visivelmente ansiava a desanimada maioria dos portugueses. Sendo que até o agora aposentado Portas (estatuto irrevogável até quando?) já se obrigou a engolir a sua estudada tirada em torno da “geringonça” governativa do PS.
(António, http://expresso.sapo.pt)
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