(Sim, eu
sei que a época não é propícia a chamadas de atenção, mas uma pitada de realismo
não nos ficará mal)
Cheguei a estes números através de uma intervenção de Fernando Teixeira dos
Santos na RTP 3 em debate com Jorge Braga de Macedo e Ricardo Mamede.
A evolução do crédito vencido, seja de sociedades não financeiras, seja de
devedores particulares, é um bom indicador da situação macroeconómica real. Ele
pode representar uma de duas coisas: dificuldades de cumprimento de
compromissos que constituem um indicador indireto de quebra de rendimento, situações
precárias de presença ou mesmo de ausência do mercado de trabalho; ou então
representam as responsabilidades de laxismo das instituições bancárias na
concessão de crédito, não ponderando as taxas de esforço e a capacidade de
absorção por parte das empresas e famílias.
O Boletim Estatístico de dezembro do Banco de Portugal permite-nos
acompanhar a progressão no tempo de dois indicadores: (i) o rácio de crédito
vencido (percentagem de crédito não reembolsado nas datas de vencimento em
relação ao crédito total concedido) de famílias e sociedades não financeiras e (ii)
a percentagem de sociedades financeiras e de famílias com crédito vencido
(percentagem de empresas e famílias em incumprimento em relação ao total de
empresas e famílias a quem foi concedido crédito).
O comportamento dos dois indicadores, principalmente o das sociedades não
financeiras é esclarecedor: o rácio de crédito vencido não para de aumentar, com
a percentagem de empresas em situação de incumprimento a estabilizar nos dois últimos
anos. Quanto às famílias, o rácio de crédito vencido também não para de
aumentar embora a um ritmo menor, com a percentagem de famílias em incumprimento
a descer muito ligeiramente.
Não foi este o panorama que nos pintaram. As dificuldades estão aí explícitas
e compreende-se o círculo vicioso das empresas, com baixa autonomia financeira,
forte vulnerabilidade ao crédito bancário e incumprimento que não pode ser ocultado.
Matéria que faz parte dos trabalhos de casa que urge começar a organizar, tal
como o meu colega de blogue o assinalou.
Feliz Natal, apesar de tudo.
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