domingo, 3 de março de 2013

SOBRE A GLOBALIZAÇÃO FINANCEIRA


Enchem-nos os ouvidos com referências à finança mundial e à globalização financeira, mas raramente nos dizem do que estão a falar e qual o peso relativo disso mesmo. Pois um recentíssimo estudo – “Financial globalization: retreat or reset?” –, realizado no quadro da consultora multinacional McKinsey pelo seu braço de research (o MGI, “McKinsey Global Institute”), acaba de nos fornecer a propósito alguns elementos relevantes de mensuração e avaliação. Limito-me aqui a quatro constatações de entre as mais genéricas e básicas.


Em primeiro lugar, registemos que quando nos falam dos ativos financeiros mundiais é ao conjunto de valores que transita por uma vasta totalidade de mercados internacionais (ações, obrigações e empréstimos) que nos temos de reportar. Algo cujo quantitativo ascendia a 225 biliões de dólares em meados de 2012 (312% do PIB mundial), após um enorme crescimento verificado desde a década de 80 (12 biliões em 1980, correspondendo a 120% do PIB mundial) e não obstante a relativa paralisia dos anos subsequentes à crise de 2007 (206 biliões em 2007, correspondendo então a um pico de 355% do PIB mundial).

 
Em segundo lugar, registemos quanto os movimentos de capitais transfronteiriços evidenciam como nenhum outro indicador a intensidade da globalização financeira ocorrida nas últimas décadas (de 0,5 biliões de dólares e 4% do PIB mundial em 1980 para 11,8 biliões e 20% do PIB mundial em 2007) e a significativa dimensão da recente crise internacional (os investimentos e empréstimos entre países caíram para os atuais 4,6 biliões, valor 61% abaixo do máximo que havia sido atingido em 2007).
 
 

Em terceiro lugar, registemos quanto a Europa em geral, e a Zona Euro em particular, estiveram na vanguarda do processo de globalização financeira deste início de século e quanto as mesmas regiões estiveram associadas ao colapso do pós-crise: 49% do acréscimo dos fluxos globais de capitais e 72% do decréscimo dos fluxos globais de capitais, respetivamente. Sendo ainda de destacar o caso específico do Reino Unido, enquanto hub assumido das transações financeiras continentais, e as visíveis razões – 82% de quebra registada nos seus fluxos de capitais – para os cuidados e exigências que Cameron tem vindo a exibir.

 

Por último, registemos o facto de um contexto de crescente visibilidade dos fluxos de capitais com origem nos chamados países em vias de desenvolvimento (1,8 biliões no ano transato), não obstante um contexto incomparável em relação à progressão experimentada pelas economias emergentes na economia mundial (atingindo atualmente 38% do PIB mundial, contra apenas 19% dos ativos financeiros globais). De assinalar, ainda, a expressão inequivocamente importante adquirida pela China e, nesse âmbito, a curiosidade nada desprezível de a China se ter tornado uma fonte de financiamento mais relevante na América Latina (sobretudo Venezuela, Brasil e Argentina) do que a mais tradicionalmente estabelecida, constituída pela soma dos empréstimos combinados do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento.
 
Deixo para próximas núpcias, entre outros possíveis, algum tratamento dos movimentos de capitais mais estáveis (investimento direto estrangeiro) e de evidências mais aprofundadas quanto à crise da Zona Euro…

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