Enchem-nos os ouvidos com referências à
finança mundial e à globalização financeira, mas raramente nos dizem do que
estão a falar e qual o peso relativo disso mesmo. Pois um recentíssimo estudo –
“Financial globalization: retreat or reset?” –, realizado no quadro da
consultora multinacional McKinsey pelo seu braço de research (o MGI, “McKinsey Global Institute”), acaba de nos fornecer
a propósito alguns elementos relevantes de mensuração e avaliação. Limito-me
aqui a quatro constatações de entre as mais genéricas e básicas.
Em primeiro lugar, registemos que quando
nos falam dos ativos financeiros mundiais é ao conjunto de valores que transita
por uma vasta totalidade de mercados internacionais (ações, obrigações e empréstimos)
que nos temos de reportar. Algo cujo quantitativo ascendia a 225 biliões de
dólares em meados de 2012 (312% do PIB mundial), após um enorme crescimento verificado
desde a década de 80 (12 biliões em 1980, correspondendo a 120% do PIB mundial)
e não obstante a relativa paralisia dos anos subsequentes à crise de 2007 (206
biliões em 2007, correspondendo então a um pico de 355% do PIB mundial).
Em segundo lugar, registemos quanto os
movimentos de capitais transfronteiriços evidenciam como nenhum outro indicador
a intensidade da globalização financeira ocorrida nas últimas décadas (de 0,5
biliões de dólares e 4% do PIB mundial em 1980 para 11,8 biliões e 20% do PIB
mundial em 2007) e a significativa dimensão da recente crise internacional (os
investimentos e empréstimos entre países caíram para os atuais 4,6 biliões, valor
61% abaixo do máximo que havia sido atingido em 2007).
Em terceiro lugar, registemos quanto a Europa
em geral, e a Zona Euro em particular, estiveram na vanguarda do processo de
globalização financeira deste início de século e quanto as mesmas regiões
estiveram associadas ao colapso do pós-crise: 49% do acréscimo dos fluxos
globais de capitais e 72% do decréscimo dos fluxos globais de capitais,
respetivamente. Sendo ainda de destacar o caso específico do Reino Unido,
enquanto hub assumido das transações
financeiras continentais, e as visíveis razões – 82% de quebra registada nos seus
fluxos de capitais – para os cuidados e exigências que Cameron tem vindo a exibir.
Por último, registemos o facto de um
contexto de crescente visibilidade dos fluxos de capitais com origem nos
chamados países em vias de desenvolvimento (1,8 biliões no ano transato),
não obstante um contexto incomparável em relação à progressão experimentada
pelas economias emergentes na economia mundial (atingindo atualmente 38% do PIB
mundial, contra apenas 19% dos ativos financeiros globais). De assinalar, ainda, a
expressão inequivocamente importante adquirida pela China e, nesse âmbito, a curiosidade
nada desprezível de a China se ter tornado uma fonte de financiamento mais relevante
na América Latina (sobretudo Venezuela, Brasil e Argentina) do que a mais tradicionalmente
estabelecida, constituída pela soma dos empréstimos combinados do Banco Mundial
e do Banco Interamericano de Desenvolvimento.
Deixo para próximas núpcias, entre
outros possíveis, algum tratamento dos movimentos de capitais mais estáveis (investimento
direto estrangeiro) e de evidências mais aprofundadas quanto à crise da Zona
Euro…
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