terça-feira, 26 de março de 2013

COSTA E RIO, A MESMA LUTA?


 
Volto então a José Pacheco Pereira (JPP), hoje por hoje o mais completo comentador político no ativo em Portugal. Como, aliás, este blogue tem insistentemente sublinhado e demonstrado.
 
Pois é bem verdade que “no melhor pano cai a nódoa” e cá chegou o dia de lhe “apontar o dedo”. O pretexto é o seu último artigo, publicado no “Público” de sábado sob o título “As responsabilidades de Rui Rio e António Costa”, e o seu inesperado patrocínio de uma política pobremente fulanizada. Assim à guisa de um materialismo dialético estalinisticamente despojado. Um exemplo eloquente: “E, tirando estes dois homens, Rio e Costa, e pouco mais, não há no sistema partidário quem pudesse dar corpo a uma alternativa que desse esperança aos portugueses de que não estão condenados a uma austeridade sem fim, num ambiente de medo e empobrecimento. E que salvasse a deriva antidemocrática que cresce todos os dias. E nos fizesse voltar a uma soberania honrosa.”
 
Ressalvando como positiva a desenvoltura com que descreve a escalada de adensamento do pântano da vida política portuguesa, o artigo assenta em três pilares altamente viciosos: (i) uma confusão entre um efeito visível, o clímax de partidocracia a que chegamos e que JPP tão judiciosamente tem sabido elucidar e denunciar, e uma causa mais que improvável, as atuais gerências de Passos e Seguro; (ii) uma avaliação por demais subjetiva daquelas duas personalidades e do seu percurso, imputando-lhes axiomaticamente um inopinado mix de vontades triviais e qualidades exacerbadas; (iii) uma ausência de mínimos em termos de manipulação dos factos históricos e de categorias suscetíveis de conferir solidez e rigor à análise.
 
Não é de todo inédito que uma grande espessura intelectual se deixe apanhar pela força adulteradora do desvio emocional. E nem mesmo JPP consegue escapar a semelhante manifestação da sua natureza humana…

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