Volto então a José Pacheco Pereira (JPP), hoje
por hoje o mais completo comentador político no ativo em Portugal. Como, aliás,
este blogue tem insistentemente sublinhado e demonstrado.
Pois é bem verdade que “no melhor pano
cai a nódoa” e cá chegou o dia de lhe “apontar o dedo”. O pretexto é o seu último
artigo, publicado no “Público” de sábado sob o título “As responsabilidades de
Rui Rio e António Costa”, e o seu inesperado patrocínio de uma política pobremente
fulanizada. Assim à guisa de um materialismo dialético estalinisticamente
despojado. Um exemplo eloquente: “E, tirando estes dois homens, Rio e Costa, e
pouco mais, não há no sistema partidário quem pudesse dar corpo a uma
alternativa que desse esperança aos portugueses de que não estão condenados a
uma austeridade sem fim, num ambiente de medo e empobrecimento. E que salvasse
a deriva antidemocrática que cresce todos os dias. E nos fizesse voltar a uma
soberania honrosa.”
Ressalvando como positiva a desenvoltura
com que descreve a escalada de adensamento do pântano da vida política
portuguesa, o artigo assenta em três pilares altamente viciosos: (i) uma
confusão entre um efeito visível, o clímax de partidocracia a que chegamos e que
JPP tão judiciosamente tem sabido elucidar e denunciar, e uma causa mais que
improvável, as atuais gerências de Passos e Seguro; (ii) uma avaliação por
demais subjetiva daquelas duas personalidades e do seu percurso, imputando-lhes
axiomaticamente um inopinado mix de vontades
triviais e qualidades exacerbadas; (iii) uma ausência de mínimos em termos de manipulação
dos factos históricos e de categorias suscetíveis de conferir solidez e rigor à
análise.
Não é de todo inédito que uma grande espessura
intelectual se deixe apanhar pela força adulteradora do desvio emocional. E nem
mesmo JPP consegue escapar a semelhante manifestação da sua natureza humana…
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