Com todos os seus tiques, Vasco Pulido
Valente (VPV) continua a ser um colunista temível, leia-se delicioso. Sábado,
no “Público”, falou-nos novamente de Cavaco. Começava assim: “Finalmente, o
Presidente da República abriu a sua preciosa boca e disse três coisas”. E, após
algumas explanações sugestivas, concluía deste modo: “Felizmente que o dr.
Cavaco vai publicar um prefácio ao seu novo livro, Roteiros VII, com o título aliciante de Como deve atuar o Presidente da República em tempos de grave crise
económica e financeira, um tratado obrigatório para o sr. Hollande, e para
dúzia e meia de chefes de Governo. Os grandes princípios dessa obra teórica são
fáceis de presumir: falar pouco ou nada ou, em caso de aflição, falar
‘entreportas’. Evitar o ‘protagonismo mediático’, que acaba fatalmente por
diminuir a ‘influência’ do Presidente. E só conversar com Passos Coelho e os
seus congéneres (se é que ele os tem) em estrita confidencialidade. Estes
preceitos levarão, tarde ou cedo, a que Portugal se esqueça de Cavaco e a que
ele cumpra sossegadamente o seu mandato, sem maçadas de maior. Se pensarmos
bem, ele é um reformado.”
Não obstante a consistência lógica do
escrito e a incontestável qualidade da escrita, com destaque para o saboroso
veneno do verbo, creio que VPV não tem razão. Porque o problema com Cavaco só é
a reforma no momento de pagar as contas de final do mês, porque o verdadeiro problema
de Cavaco é, isso sim, o seu incorrigível narcisismo e a sua escandalosa
desonestidade intelectual. Então não foi esse senhor que inventou a “cooperação
estratégica” e dela passou a uma promessa de exercício de uma “magistratura
ativa”? E não foi ele que confundiu um castigo a Sócrates com uma penalização do País? E não foi ele que tanto se gabou do modo como impediu a crise aquando
do “caso TSU”? E não foi também ele que já tanto disse e desdisse e redisse
sobre os atingidos limites dos sacrifícios impostos aos portugueses? And so on, and so on…
Cavaco é um mestre no uso a benefício
próprio daquela estafada ideia de que os jornais de hoje são o lixo de amanhã. Só
que, para mal dos seus pecados, há registos. Ora, nos dias que correm e perante
um povo triste, desorientado e assanhado, o recorde nacional histórico de
popularidade negativa que Cavaco já ostenta parece sinalizar que talvez não lhe
vá ser sempre tolerado que faça desfalecer a coerência e o exemplo às mãos de
uma tão pequenina e mesquinha vaidade…
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