quarta-feira, 13 de março de 2013

UM POBRE REFORMADO?


Com todos os seus tiques, Vasco Pulido Valente (VPV) continua a ser um colunista temível, leia-se delicioso. Sábado, no “Público”, falou-nos novamente de Cavaco. Começava assim: “Finalmente, o Presidente da República abriu a sua preciosa boca e disse três coisas”. E, após algumas explanações sugestivas, concluía deste modo: “Felizmente que o dr. Cavaco vai publicar um prefácio ao seu novo livro, Roteiros VII, com o título aliciante de Como deve atuar o Presidente da República em tempos de grave crise económica e financeira, um tratado obrigatório para o sr. Hollande, e para dúzia e meia de chefes de Governo. Os grandes princípios dessa obra teórica são fáceis de presumir: falar pouco ou nada ou, em caso de aflição, falar ‘entreportas’. Evitar o ‘protagonismo mediático’, que acaba fatalmente por diminuir a ‘influência’ do Presidente. E só conversar com Passos Coelho e os seus congéneres (se é que ele os tem) em estrita confidencialidade. Estes preceitos levarão, tarde ou cedo, a que Portugal se esqueça de Cavaco e a que ele cumpra sossegadamente o seu mandato, sem maçadas de maior. Se pensarmos bem, ele é um reformado.”
 
Não obstante a consistência lógica do escrito e a incontestável qualidade da escrita, com destaque para o saboroso veneno do verbo, creio que VPV não tem razão. Porque o problema com Cavaco só é a reforma no momento de pagar as contas de final do mês, porque o verdadeiro problema de Cavaco é, isso sim, o seu incorrigível narcisismo e a sua escandalosa desonestidade intelectual. Então não foi esse senhor que inventou a “cooperação estratégica” e dela passou a uma promessa de exercício de uma “magistratura ativa”? E não foi ele que confundiu um castigo a Sócrates com uma penalização do País? E não foi ele que tanto se gabou do modo como impediu a crise aquando do “caso TSU”? E não foi também ele que já tanto disse e desdisse e redisse sobre os atingidos limites dos sacrifícios impostos aos portugueses? And so on, and so on
 
Cavaco é um mestre no uso a benefício próprio daquela estafada ideia de que os jornais de hoje são o lixo de amanhã. Só que, para mal dos seus pecados, há registos. Ora, nos dias que correm e perante um povo triste, desorientado e assanhado, o recorde nacional histórico de popularidade negativa que Cavaco já ostenta parece sinalizar que talvez não lhe vá ser sempre tolerado que faça desfalecer a coerência e o exemplo às mãos de uma tão pequenina e mesquinha vaidade…

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