Um tema que sempre me fascinou é o da identificação dos
atributos psicológicos e também sociológicos que fazem ou que geram um bom
empresário. Na literatura do desenvolvimento económico e da inovação, essa matéria
costuma ser designada pelos factores do N-entrepreneurship.
Joseph Schumpeter (1883-1950) e Harvey Leibenstein (1922-1994) são referências
incontornáveis para qualquer iniciado. Schumpeter tem uma conceção mais
elitista e o seu conceito de empresário –herói só é reservado aos empresários
inovadores. Os restantes não fazem a diferença. São um fator produtivo como
outro qualquer e limitam-se a reproduzir o sistema. Leibenstein é mais moderado
e distingue entre o N-entrepreneur (empresário
inovador) e o R-entrepreneur (empresário
de rotina).
Mas todo este intróito deve-se a quê? A entrevista de
hoje do Engº Belmiro de Azevedo (BA) ao Público passa a constituir em meu
entender um elemento material incontornável para qualquer estudo sobre os atributos
do N-entrepreneur.
Embora o tema mereça melhor e mais meditada análise, a
entrevista de BA traz à panóplia desses atributos um novo e decisivo elemento:
a dimensão do EGO. O Ego de BA é seguramente bem maior do que a sua fortuna e o
seu vasto conglomerado empresarial. Transborda em toda a entrevista,
transforma-se no seu ADN diferenciador, chega por vezes a tocar os traços da
arrogância. Ora isto suscita uma questão bem interessante para a literatura do N-entrepreneurship. Será que ele exige
egos com esta dimensão e sobretudo as condições materiais desejáveis para se
revelarem e consolidarem? Não é de facto matéria mole para todo o ressurgimento
do tema do empreendedorismo. A razão é simples: o que é inato e o que é passível
de formação, aprendizagem, demonstração, coaching?
Dizia David Mc Clelland, uma das referências cruciais na psicologia do N-entrepreneurship que não é indiferente
o caráter precoce ou tardio com que os bebés largam a fralda, precipitando ou
diferindo o caminho para a autonomia e para o self-achievement.
Na entrevista, emergem com clareza, como não podia deixar
de ser, outros traços reconhecidos generalizadamente na literatura. Um deles é
o gosto de mandar. Mas há outros aspetos pessoais que vale a pena destacar: a
influência do rigor do professor primário, a educação dos filhos, a preparação
da sucessão são aspetos preciosos para caracterizar os atributos psicológicos
que andam associados ao seu estilo.
A este propósito a referência de BA à Porto Business
School de que é presidente é uma delícia e presunção e água benta …:
“É uma escola que tem duas ou três coisas muito diferentes daquelas que
existem no mundo. É a única que é, de facto, uma associação entre empresários e
uma universidade, em que os empresários garantem duas coisas importantes para a
sua sustentabilidade: metem uns dinheiros para serem associados; mandam para lá
os estudantes. Dão o financiamento e a matéria- prima, os gestores em início de
carreira. (…) Sou o presidente e quando eu mando os outros obedecem. Não pode pôr
essa frase, mas é um bocado assim (risos).
O que é que a UP pensará disto? Certamente que os
professores da UP acolhidos pela asa de BA dirão que sim! E os que permanecem
fora dessa asa de acolhimento, sobretudo os que, citando BA: “Um professor de
uma escola de negócios tem de ser um excelente professor, um excelente
comunicador, passar muito tempo a visitar empresas. Um professor universitário não
faz nada disto!”? Aceitarão de bom grado este apagamento da instituição
universitária e das suas lideranças?
É, de facto, uma boa questão para discutir com todas as
pinças necessárias a articulação entre a Universidade e o mundo dos negócios!
Sem comentários:
Enviar um comentário