Nas últimas semanas, à medida que se
aproximava a data de mais uma Cimeira Europeia, Paul Krugman voltava a
denunciar o analfabetismo funcional dos atuais responsáveis europeus, aplicando-lhes
a sua tese acerca de cockroaches ideas
na economia – ideias que tentamos descartar mas que persistem em voltar à tona,
sobretudo devido à ignorância em relação a aspetos básicos por parte dos seus
defensores. Exemplificando com o inefável Rehn e a sua idiota proclamação de
que o próprio Keynes não seria keynesiano nas presentes circunstâncias, visto
que nos anos 30 “os governos não estavam tão profundamente endividados quanto
estão hoje” (ver gráfico abaixo). E enfatizando: “O meu problema não é com a
Europa, é com as más políticas que estão a destruir a Europa e com os
funcionários que por qualquer razão – inflexibilidade intelectual, palas
ideológicas ou, suspeito, pura vaidade pessoal, falta de vontade para admitir o
erro – recusaram considerar qualquer modificação dessas políticas apesar de
anos de resultados desastrosos.” Reserva mental, fundamentalismo, tiques de
prima-dona, baratas tontas em qualquer caso!
Bem a montante de todas aquelas
hipóteses explicativas, salvo talvez na componente de vaidade pessoal, o nosso
Durão escrevia entretanto aos membros do Conselho Europeu uma carta preparatória
do mesmo, contendo alguns anexos retirados das “Previsões de Inverno” de que retirava
conclusões tão preciosamente acéfalas quanto as seguintes: “ainda não saímos da crise, tal como
demonstrado pelos inaceitáveis elevados níveis de desemprego, mas podemos
observar que os esforços em termos de reformas fornecidos pelos Estados Membros
estão a dar resultados corrigindo desequilíbrios muito importantes na economia
europeia”, numa perspetiva mais genérica, ou “penso que considerarão
interessante ver como certas das nossas economias se estão a ajustar, nomeadamente
nos países abrangidos por programa”, no que mais diretamente nos toca enquanto
portugueses. Estarão pois à vista os benefícios da austeridade!
Na véspera da Cimeira Europeia, o
britânico Stephen Hughes, vice-presidente do Grupo S&D no Parlamento
Europeu, apelava a que a Comissão Europeia ponha fim às suas “políticas
destrutivas” que conduzem a Europa a uma ever-deeper
recession e dirigiu-se assim ao seu presidente no plenário de Estrasburgo: “Presidente
Barroso: se o senhor fosse um primeiro-ministro e Ohli Rehn fosse o seu
ministro das Finanças a tornar as coisas tão consistentemente erradas, o senhor
remodelá-lo-ia por forma a parar esse dano. Pensamos que é o que deve fazer
agora, ou talvez assumir o senhor mesmo a responsabilidade integral por estas
matérias.” Prenúncio de que algo (impeachment?)
poderá estar para acontecer no sentido de uma estratégia alternativa mais
eficaz?
(Niels Bo Bojesen, http://jyllands-posten.dk)
E chegou o tão esperado Conselho, ontem
terminado com mais um daqueles comunicados insuportavelmente vazios de
conteúdo. Enquadrado pela reafirmação das prioridades estabelecidas na Análise
Anual do Crescimento (prosseguir uma consolidação orçamental diferenciada
favorável ao crescimento, restabelecer as práticas normais de concessão de
crédito à economia, promover o crescimento e a competitividade, combater o
desemprego e as consequências sociais da crise e modernizar a administração
pública) e reforçado por uma especial ênfase a algumas questões (especial
atenção a políticas ativas em matéria de emprego, questões sociais e mercado
trabalho e, particularmente, à promoção do emprego dos jovens; aprofundamento
do mercado único como motor essencial do crescimento e do emprego; necessidade
de novas medidas para reduzir o peso global da regulamentação a nível nacional
e da UE; acompanhamento dos trabalhos em curso no que respeita ao “roteiro para
a plena realização da União Económica e Monetária”). Tanta palavra para tão
pouca ação ou, numa feliz síntese da imprensa europeia de ontem, “para quê
mudar uma fórmula fracassada?”…
Sem comentários:
Enviar um comentário