sábado, 16 de março de 2013

BARATAS, REHN, DURÃO E OS AMIGOS DELES


Nas últimas semanas, à medida que se aproximava a data de mais uma Cimeira Europeia, Paul Krugman voltava a denunciar o analfabetismo funcional dos atuais responsáveis europeus, aplicando-lhes a sua tese acerca de cockroaches ideas na economia – ideias que tentamos descartar mas que persistem em voltar à tona, sobretudo devido à ignorância em relação a aspetos básicos por parte dos seus defensores. Exemplificando com o inefável Rehn e a sua idiota proclamação de que o próprio Keynes não seria keynesiano nas presentes circunstâncias, visto que nos anos 30 “os governos não estavam tão profundamente endividados quanto estão hoje” (ver gráfico abaixo). E enfatizando: “O meu problema não é com a Europa, é com as más políticas que estão a destruir a Europa e com os funcionários que por qualquer razão – inflexibilidade intelectual, palas ideológicas ou, suspeito, pura vaidade pessoal, falta de vontade para admitir o erro – recusaram considerar qualquer modificação dessas políticas apesar de anos de resultados desastrosos.” Reserva mental, fundamentalismo, tiques de prima-dona, baratas tontas em qualquer caso!

 
Bem a montante de todas aquelas hipóteses explicativas, salvo talvez na componente de vaidade pessoal, o nosso Durão escrevia entretanto aos membros do Conselho Europeu uma carta preparatória do mesmo, contendo alguns anexos retirados das “Previsões de Inverno” de que retirava conclusões tão preciosamente acéfalas quanto as seguintes: “ainda não saímos da crise, tal como demonstrado pelos inaceitáveis elevados níveis de desemprego, mas podemos observar que os esforços em termos de reformas fornecidos pelos Estados Membros estão a dar resultados corrigindo desequilíbrios muito importantes na economia europeia”, numa perspetiva mais genérica, ou “penso que considerarão interessante ver como certas das nossas economias se estão a ajustar, nomeadamente nos países abrangidos por programa”, no que mais diretamente nos toca enquanto portugueses. Estarão pois à vista os benefícios da austeridade!

 
Na véspera da Cimeira Europeia, o britânico Stephen Hughes, vice-presidente do Grupo S&D no Parlamento Europeu, apelava a que a Comissão Europeia ponha fim às suas “políticas destrutivas” que conduzem a Europa a uma ever-deeper recession e dirigiu-se assim ao seu presidente no plenário de Estrasburgo: “Presidente Barroso: se o senhor fosse um primeiro-ministro e Ohli Rehn fosse o seu ministro das Finanças a tornar as coisas tão consistentemente erradas, o senhor remodelá-lo-ia por forma a parar esse dano. Pensamos que é o que deve fazer agora, ou talvez assumir o senhor mesmo a responsabilidade integral por estas matérias.” Prenúncio de que algo (impeachment?) poderá estar para acontecer no sentido de uma estratégia alternativa mais eficaz?

(Niels Bo Bojesen, http://jyllands-posten.dk)

E chegou o tão esperado Conselho, ontem terminado com mais um daqueles comunicados insuportavelmente vazios de conteúdo. Enquadrado pela reafirmação das prioridades estabelecidas na Análise Anual do Crescimento (prosseguir uma consolidação orçamental diferenciada favorável ao crescimento, restabelecer as práticas normais de concessão de crédito à economia, promover o crescimento e a competitividade, combater o desemprego e as consequências sociais da crise e modernizar a administração pública) e reforçado por uma especial ênfase a algumas questões (especial atenção a políticas ativas em matéria de emprego, questões sociais e mercado trabalho e, particularmente, à promoção do emprego dos jovens; aprofundamento do mercado único como motor essencial do crescimento e do emprego; necessidade de novas medidas para reduzir o peso global da regulamentação a nível nacional e da UE; acompanhamento dos trabalhos em curso no que respeita ao “roteiro para a plena realização da União Económica e Monetária”). Tanta palavra para tão pouca ação ou, numa feliz síntese da imprensa europeia de ontem, “para quê mudar uma fórmula fracassada?”…

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