sexta-feira, 1 de março de 2013

“SOCRATISMO LARANJA”?


Luís Filipe Menezes é um espécimen raro, um personagem complexo e um animal político a tender para o inclassificável. Assim como que um protótipo em bom de uma coisa e o seu contrário, embora muito longe de chegar ao ponto de ser tão liminarmente contraditório.
 
Transita sem mediações de alguém que se apresenta de aspeto frágil e trato afável para outro alguém que é truculento na argumentação e feroz na ironia. É dotado de carisma e recorre à demagogia sem grandes escrúpulos, mas mostra preparação e possuir inteligência e perspicácia para ficar quase sempre a montante do populismo. É senhor de choro sentido e pungente precedendo estocadas sem piedade. Não sendo insensível à excelência, convive quase naturalmente com o péssimo. E conjuga tiradas magistrais com lugares-comuns a roçar o disparate.
 
Humilha Marques Mendes mas perde para Ferreira Leite. Escolhe Ribau e Marco António mas não lhes entrega os pontos. Prefere Relvas a Pacheco e Passos a Rio, mas também Cadilhe a Valente e Peneda a Borges. Junta Cervan com Anacoreta e Massena com Soutinho. Aplaude Jardim mas demarca-se de Alberto João. Já pensou quase tudo sobre Santana. É sportinguista mas frequenta garbosamente o camarote presidencial do Dragão.
 
Na sua mais recente entrevista à RTP, aliás muito boa para os seus propósitos, foi mais uma vez igual a si próprio. Como quando afirmou ser falso que a Câmara de Gaia seja das mais endividadas do País para logo proclamar “eu não é por o mundo estar como está que não aposto em projetos para desenvolver a Cidade” e acabar por se deixar galvanizar pela confissão do sonho de tornar o Porto a Barcelona do Ocidente (!). Ou como quando, mais adiante, assim expressamente se referiu ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros do Governo que tão acriticamente acompanha (na desastrada companhia parlamentar de seu filho maior): “O CDS histórico, democrata-cristão, com sensibilidade social, no Porto está comigo. Porque eu tenho muito respeito pelo dr. Paulo Portas, mas o dr. Paulo Portas não manda diretamente nos seus militantes, nos seus cidadãos do Porto. E esse argumento do despesismo não vem de certeza do dr. Paulo Portas, espero eu, espero eu que não venha do dr. Paulo Portas. Porque algumas opções políticas do dr. Paulo Portas, enquanto governante no passado, davam para pagar as dívidas das autarquias portuguesas todas.”
 
Meneses vai provavelmente suceder a Rio e, assim sendo, presidir ao Porto com uma normalidade que há muito vinha tardando. Ainda que seja igualmente provável que as suas idiossincrasias nos vão levando ao engolir de um ou outro sapo…

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