Luís Filipe Menezes é um espécimen raro,
um personagem complexo e um animal político a tender para o inclassificável.
Assim como que um protótipo em bom de uma coisa e o seu contrário, embora muito
longe de chegar ao ponto de ser tão liminarmente contraditório.
Transita sem mediações de alguém que se
apresenta de aspeto frágil e trato afável para outro alguém que é truculento na
argumentação e feroz na ironia. É dotado de carisma e recorre à demagogia sem grandes
escrúpulos, mas mostra preparação e possuir inteligência e perspicácia para
ficar quase sempre a montante do populismo. É senhor de choro sentido e
pungente precedendo estocadas sem piedade. Não sendo insensível à excelência,
convive quase naturalmente com o péssimo. E conjuga tiradas magistrais com
lugares-comuns a roçar o disparate.
Humilha Marques Mendes mas perde para
Ferreira Leite. Escolhe Ribau e Marco António mas não lhes entrega os pontos. Prefere
Relvas a Pacheco e Passos a Rio, mas também Cadilhe a Valente e Peneda a
Borges. Junta Cervan com Anacoreta e Massena com Soutinho. Aplaude Jardim mas
demarca-se de Alberto João. Já pensou quase tudo sobre Santana. É sportinguista
mas frequenta garbosamente o camarote presidencial do Dragão.
Na sua mais recente entrevista à RTP,
aliás muito boa para os seus propósitos, foi mais uma vez igual a si próprio.
Como quando afirmou ser falso que a Câmara de Gaia seja das mais endividadas do
País para logo proclamar “eu não é por o mundo estar como está que não aposto
em projetos para desenvolver a Cidade” e acabar por se deixar galvanizar pela confissão
do sonho de tornar o Porto a Barcelona do Ocidente (!). Ou como quando, mais
adiante, assim expressamente se referiu ministro de Estado e dos Negócios
Estrangeiros do Governo que tão acriticamente acompanha (na desastrada
companhia parlamentar de seu filho maior): “O CDS histórico, democrata-cristão,
com sensibilidade social, no Porto está comigo. Porque eu tenho muito respeito
pelo dr. Paulo Portas, mas o dr. Paulo Portas não manda diretamente nos seus
militantes, nos seus cidadãos do Porto. E esse argumento do despesismo não vem
de certeza do dr. Paulo Portas, espero eu, espero eu que não venha do dr. Paulo
Portas. Porque algumas opções políticas do dr. Paulo Portas, enquanto
governante no passado, davam para pagar as dívidas das autarquias portuguesas
todas.”
Meneses vai provavelmente suceder a Rio
e, assim sendo, presidir ao Porto com uma normalidade que há muito vinha
tardando. Ainda que seja igualmente provável que as suas idiossincrasias nos vão
levando ao engolir de um ou outro sapo…
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