Não estou inteiramente certo das razões,
e menos ainda da sua bondade, mas sinto que seria de algum modo indesculpável que
aqui passasse ao lado do registo da morte de Hugo Chávez (acima, em caricatura recente
do brasileiro Fabiano
“Carriero” Eiras). Controverso é o mínimo que se pode afirmar em
relação ao personagem que assim desaparece e que, no plano incidental e
factual, ficará designadamente inesquecível pelos seus reptos e provocações a
Bush e aos Estados Unidos, pelos seus inesgotáveis discursos televisivos, pelo
seu momento de interação com Juan Carlos (“¿Por
qué no te callas?)…
No que nos mais diretamente respeita, e
a fazer fé do que já veio lembrar esta noite Manuel Pinho – que saudades! –, Chávez
terá sido “um grande amigo de Portugal” e alguém que abriu muitas oportunidades
de negócio às nossas empresas. Foram especialmente mediáticas a sua compra de
um milhão e meio de computadores “Magalhães” a Sócrates e a sua entrevista a um
Mário Soares inesperadamente elogioso.
Lembrado isto, recorro à sua descrição bem
mais minuciosa e rica pela jornalista Flávia Marreiro quando, em artigo publicado
na “Folha de S. Paulo” (13 de janeiro), já procurava antecipar o pós-chavismo: “Chávez
misturou ideias sobre união cívico-militar, identidade popular, retórica
socialista, ode aos cubanos e até ‘cristianismo revolucionário’, embalado numa
gestão com ênfase na distribuição de renda que lhe fez herói dos pobres”.
A imagem que acompanhava o dito artigo (ver
abaixo) ajuda a complementar essa mesma descrição ao integrar a grande base
social de apoio do chavismo (“os pobres”), algumas das suas marcas
instrumentais (“conselhos comunitários” e “coletivos armados”) e a coligação de
forças que o sustentou (a ala nacional-militarista desenvolvimentista, vulgo os
“militares”; a fação do socialismo/bolivarismo retórico, fortemente vinculada a
Cuba, vulgo a “esquerda”; e os chavistas acidentais com particular destaque
para os empresários envolvidos em negócios com o governo, vulgo os “boliburgueses”)
e cuja renovação convivencial se diz será decisiva para assegurar a
estabilidade política venezuelana no próximo futuro. Uma coisa que não vai revelar-se
nada fácil…
Sem comentários:
Enviar um comentário