quarta-feira, 6 de março de 2013

HUGO RAFAEL

 
Não estou inteiramente certo das razões, e menos ainda da sua bondade, mas sinto que seria de algum modo indesculpável que aqui passasse ao lado do registo da morte de Hugo Chávez (acima, em caricatura recente do brasileiro Fabiano “Carriero” Eiras). Controverso é o mínimo que se pode afirmar em relação ao personagem que assim desaparece e que, no plano incidental e factual, ficará designadamente inesquecível pelos seus reptos e provocações a Bush e aos Estados Unidos, pelos seus inesgotáveis discursos televisivos, pelo seu momento de interação com Juan Carlos (“¿Por qué no te callas?)…
 
No que nos mais diretamente respeita, e a fazer fé do que já veio lembrar esta noite Manuel Pinho – que saudades! –, Chávez terá sido “um grande amigo de Portugal” e alguém que abriu muitas oportunidades de negócio às nossas empresas. Foram especialmente mediáticas a sua compra de um milhão e meio de computadores “Magalhães” a Sócrates e a sua entrevista a um Mário Soares inesperadamente elogioso.

Lembrado isto, recorro à sua descrição bem mais minuciosa e rica pela jornalista Flávia Marreiro quando, em artigo publicado na “Folha de S. Paulo” (13 de janeiro), já procurava antecipar o pós-chavismo: “Chávez misturou ideias sobre união cívico-militar, identidade popular, retórica socialista, ode aos cubanos e até ‘cristianismo revolucionário’, embalado numa gestão com ênfase na distribuição de renda que lhe fez herói dos pobres”.

A imagem que acompanhava o dito artigo (ver abaixo) ajuda a complementar essa mesma descrição ao integrar a grande base social de apoio do chavismo (“os pobres”), algumas das suas marcas instrumentais (“conselhos comunitários” e “coletivos armados”) e a coligação de forças que o sustentou (a ala nacional-militarista desenvolvimentista, vulgo os “militares”; a fação do socialismo/bolivarismo retórico, fortemente vinculada a Cuba, vulgo a “esquerda”; e os chavistas acidentais com particular destaque para os empresários envolvidos em negócios com o governo, vulgo os “boliburgueses”) e cuja renovação convivencial se diz será decisiva para assegurar a estabilidade política venezuelana no próximo futuro. Uma coisa que não vai revelar-se nada fácil…
 

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