sexta-feira, 8 de março de 2013

AO DEUS DARÁ E UMA EXCEÇÃO


Tenho um pressentimento pouco esperançoso quanto ao que resultará da sétima avaliação da TROIKA e também do novo posicionamento do PS, mostrando-se mais combativo perante as três instituições internacionais nela representadas. Transparece do que se vai lendo de que o Governo está sem soluções, não sabendo no seu núcleo central como dar a volta ao insucesso e à fragilidade em que se encontra seja pela perda total de respaldo e compreensão populares, seja pela incapacidade de antecipar qualquer recuperação por mínima e incipiente que se apresente. Por outro lado, a oposição europeia ao pressuposto da austeridade a todo o preço é frágil e não se vislumbra alternativa de peso capaz de fazer infletir essa orientação. Duas das três instituições da TROIKA (Comissão Europeia e Banco Central Europeu) continuam reféns do primado da austeridade e a terceira FMI é suficientemente heterogénea internamente nas suas relações de força para não se produzir a curto prazo qualquer alteração substancial da sua posição apesar do mea culpa do seu economista-chefe quanto à subavaliação dos efeitos recessivos da austeridade. Nas duas instituições mais bloqueadas, CE e BCE, duas personalidades do sul, Barroso (a qualificação do que exportamos continua lenta) e Draghi têm compromissos de representação de interesses perfeitamente alinhados com as posições mais conservadoras. Não será por aí que virão ventos de mudança, mesmo que Draghi vá mantendo o barco do Euro com um mínimo de estabilidade.
No Governo, o CDS aparentemente tomou a responsabilidade de negociar os 4.000 milhões, mas a compressão estrutural da despesa continua por clarificar a que critérios vai obedecer. Quanto aos doutrinários do Governo, o impasse é total: perante um desemprego cujo descontrolo de antecipação e monitorização é por demais evidente e cuja magnitude quebra todos os equilíbrios possíveis em torno da despesa social compulsiva, só a descida de salários e do salário mínimo faz luz em cabeças tão insensíveis e empedernidas. E regressa tudo à estaca zero, com praticamente os mesmos protagonistas a esgrimirem de novo as suas posições, ou seja praticamente todos contra Borges. Não é preciso frequentar Harvard ou outra Escola do tipo para compreender que sem investimento, privado e/ou público, a trajetória do desemprego não será invertida ou pelo menos estancada. Mas alguém de bom senso acredita que descer o salário mínimo constitui fator de retoma do investimento?
Sorrateiramente mas com alguma persistência, o secretário de Estado adjunto do Ministro da Economia e do Desenvolvimento Regional vai fazendo o seu caminho contrastando com a inépcia dominante. Parece ter assumido de uma vez por todas a aceleração do processo de preparação do novo QREN, tem trabalhado minimamente com os territórios, mesmo com CCDR debilitadas e vira-se agora para uma tentativa de estancar a derrocada da construção civil. Ouvi-o na sessão em Évora em que tive uma intervenção e não pude deixar de confirmar que há um programa de atuação, contrastando com a ausência de perspetivas de governação futura para a esmagadora maioria do Governo. Do mal o menos.

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