Pela sétima vez, “a avaliação foi
positiva”. Para gregos e troianos, ou portugueses e troikanos, e como tinha e
irá tendo forçosamente de acontecer. Até à derrota final?
A lata de Gaspar rebenta de
incontinência. Debaixo de uma linha orientadora que José Pacheco Pereira assim tão
bem caraterizou como enformadora da nossa política económica: “a transformação de
factos consumados em argumentos”.
Exemplifico: em outubro (OE), Gaspar previra
uma contração do PIB português de 1% para 2013; há três semanas, revira essa
sua própria previsão de crescimento para o dobro (-2%); hoje, revê de novo em
baixa a sua própria revisão e refere -2,3%. Não sem acrescentar, todavia, que “não
devemos deixar-nos afundar em distinções semânticas” (como a ideia de “espiral
recessiva”) e, num assomo digno de estadista, que “a recessão é séria, a
recessão é grave, o desemprego é muito preocupante.” Chega mesmo a confessar,
quase entristecido: “Se me pergunta qual é o maior desapontamento neste
processo de ajustamento, não há qualquer espécie de dúvidas nem para si nem
para mim: é a evolução do desemprego e, em particular, do desemprego jovem.” Mas,
carpidas as mágoas e choradas as lágrimas de crocodilo que concede à política
politiqueira, o místico volta à política ideologicamente determinada e
tecnicamente comandada – e assim termina elaborando sobre “a sociedade
portuguesa que sairá desta crise” e com uma prece redentora sobre “uma
sociedade portuguesa mais aberta, mais competitiva, mais concorrencial, mais
próspera e mais justa”.
Quase de imediato em relação à conferência
de imprensa de Gaspar, a cavacal figura dava aos portugueses e aos líderes
europeus uma magistral lição de economia, explicando-lhes que é preciso não ser
rígido em relação à fixação de objetivos do défice em termos monetários, que importa
deixar funcionar os estabilizadores automáticos e que “todo o segredo está no
crescimento da produção”. Dito por outras palavras: já não há canções de amor
como havia antigamente…
Adenda matinal, diretamente proveniente
do “Público”: “o maior desapontamento” de Gaspar em forma de bê-á-bá…
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