A posição do governo de Cameron-Osborne no Reino
Unido é frequentemente interpretado como um não aliado das posições dominantes
em Bruxelas, invocando-se para tal a relativamente posição na discussão do
orçamento comunitário como uma ilustração dessa divergência.
Em meu entender, essa divergência não tem o
significado que o mainstreaming do
comentário político teima em atribuir-lhe. Ela cavalga a mancha eurocética no
Reino Unido que ora se avoluma, ora se contrai, embora sempre exista em torno
do “British way” de ser ou parecer
europeu. Por outro lado, também em meu entender, o governo Cameron-Osborne
acaba por ser, visto pelo lado da política macroeconómica, o que melhor ilustra
a defesa da tese da austeridade como instrumento de recuperação da confiança
que há de pretensamente conduzir à redinamização do investimento. E ilustra-o
sobretudo porque se trata de uma economia com moeda própria, condições de
financiamento a baixas taxas de juro e inflação que se veja não existe. O
governo de Cameron-Osborne acaba por assumir exemplarmente em condições de
autonomia de política monetária a chamada “self-defeating”
austerity e ilustra bem, negando evidências, o caráter obstinado e de enviesamento
ideológico que grassa pelas DG da UE mais ligadas à macroeconomia.
Ora, na semana de 4 a 9 de março de 2013, Cameron
discursou sobre a economia britânica, com repercussões quase ignoradas em
Portugal, onde mais uma vez negou a evidência, procurando atabalhoadamente
mostrar que tem um plano claro para a redução do défice público e que essa
redução não é de todo responsável pela longa, anémica e mesmo agónica situação
económica global do Reino Unido. E, com conversa que não é estranha aos nossos
ouvidos, lá veio com a fedorenta posição de que não há alternativa à redução
mesmo que abrupta do défice como forma de reduzir o endividamento a prazo da
economia britânica.
Os economistas britânicos não têm estado adormecidos ao contrário dos seus confrades europeus e têm vindo a denunciar o
negacionismo de Cameron, empurrando-o para um significativo isolamento que só a
trapalhada e incompetência trabalhista têm impedido de traduzir num isolamento
político mais visível.
Ora, ao contrário do que a linha Cameron-Osborne
teima em negar, num artigo fundamental para este debate, os economistas americanos Bradford DeLong e Lawrence Summers (e não são economistas quaisquer)
mostraram que, em certas condições, endividar-se mais a curto prazo pode
equivaler a endividar-se menos no longo prazo. É este debate que interessa e não
a deriva do negacionismo, uma cameronmania
que, no fim de contas, interessa ao grupo de Ohli Rehn e outros que tais,
apesar da cena do orçamento europeu e da fratura europeia eminente que o próprio
Cameron despertou.
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