Pense-se o que se pensar sobre as
agências de notação – e há fortes razões para não se pensar muito bem! –, a
verdade é que a evolução dos seus ratings
constitui um elemento indiciador do impacto conjuntural de certas situações tendencialmente
estruturais. O que resulta ainda mais claro se a observação for global e
comparativa (por oposição a individual e pontual).
Retiremos então alguns ensinamentos de
um trabalho recentemente realizado pelo “Financial Times” sobre a matéria (ver
os quadros e gráficos acima reproduzidos) e incidindo sobre a representativa
amostra das big three (Fitch, Moody’s e
Standard & Poor’s):
·
o universo das classificações AAA atribuídas às
dívidas soberanas à escala global reduziu-se significativamente (mais de 60%)
desde a crise de 2007, passando de um total obrigacionista próximo de 11
biliões de dólares para os atuais 4 biliões;
·
é visível uma concentração dos downgrades na Zona Euro (com a seguinte ordenação de desempenho
negativo: Grécia, Chipre, Espanha, Portugal, Irlanda, Eslovénia e Itália) e, em
menor medida, em outros países europeus (Islândia e Hungria à cabeça), assim
como uma concentração dos upgrades na
América Latina (com a seguinte ordenação de desempenho positivo: Uruguai,
Bolívia, Brasil, Peru, Panamá e Colômbia) e, em menor medida, nos NPIs
asiáticos (com destaque para a Indonésia, Hong-Kong e Filipinas) e na Turquia;
·
o mundo do risco é cada vez menos o que já foi, como
atesta o mapa abaixo (onde os vermelhos apontam as situações de downgrade, os verdes refletem as
situações de upgrade – quanto mais
escuro pior ou melhor, respetivamente –, os amarelos marcam as situações de
indiferença e os cinzentos sinalizam os países ainda inclassificáveis), onde se
observa que o mundo desenvolvido se vai tornando um crescente ”paraíso perdido”
e que o mundo “emergente” vai assumindo um crescente protagonismo securitário.
Claro que as mudanças geoeconómicas assim
sinalizadas ainda não passam de um processo on
the way, já que nem a hierarquia do crédito deixou de estar dominada pelos
países desenvolvidos em queda (Estados Unidos, Reino Unido e França são os
casos de perda mais saliente) nem quaisquer países em vias de desenvolvimento
atingiram posições de liderança. Mas os sinais são bem patentes de uma
transição irreversível para uma configuração da economia mundial em que a
regulação financeira ganhará novos (e ambivalentes?) contornos e o investimento
resultará mais geograficamente distribuído – para não falar dos sistémicos
desafios jurídico-políticos que a China acrescidamente imporá…
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