quinta-feira, 28 de março de 2013

VESTÍGIOS AGENCIADOS

 
Pense-se o que se pensar sobre as agências de notação – e há fortes razões para não se pensar muito bem! –, a verdade é que a evolução dos seus ratings constitui um elemento indiciador do impacto conjuntural de certas situações tendencialmente estruturais. O que resulta ainda mais claro se a observação for global e comparativa (por oposição a individual e pontual).
 
 

Retiremos então alguns ensinamentos de um trabalho recentemente realizado pelo “Financial Times” sobre a matéria (ver os quadros e gráficos acima reproduzidos) e incidindo sobre a representativa amostra das big three (Fitch, Moody’s e Standard & Poor’s):
·         o universo das classificações AAA atribuídas às dívidas soberanas à escala global reduziu-se significativamente (mais de 60%) desde a crise de 2007, passando de um total obrigacionista próximo de 11 biliões de dólares para os atuais 4 biliões;
·         é visível uma concentração dos downgrades na Zona Euro (com a seguinte ordenação de desempenho negativo: Grécia, Chipre, Espanha, Portugal, Irlanda, Eslovénia e Itália) e, em menor medida, em outros países europeus (Islândia e Hungria à cabeça), assim como uma concentração dos upgrades na América Latina (com a seguinte ordenação de desempenho positivo: Uruguai, Bolívia, Brasil, Peru, Panamá e Colômbia) e, em menor medida, nos NPIs asiáticos (com destaque para a Indonésia, Hong-Kong e Filipinas) e na Turquia;
·         o mundo do risco é cada vez menos o que já foi, como atesta o mapa abaixo (onde os vermelhos apontam as situações de downgrade, os verdes refletem as situações de upgrade – quanto mais escuro pior ou melhor, respetivamente –, os amarelos marcam as situações de indiferença e os cinzentos sinalizam os países ainda inclassificáveis), onde se observa que o mundo desenvolvido se vai tornando um crescente ”paraíso perdido” e que o mundo “emergente” vai assumindo um crescente protagonismo securitário.

 
Claro que as mudanças geoeconómicas assim sinalizadas ainda não passam de um processo on the way, já que nem a hierarquia do crédito deixou de estar dominada pelos países desenvolvidos em queda (Estados Unidos, Reino Unido e França são os casos de perda mais saliente) nem quaisquer países em vias de desenvolvimento atingiram posições de liderança. Mas os sinais são bem patentes de uma transição irreversível para uma configuração da economia mundial em que a regulação financeira ganhará novos (e ambivalentes?) contornos e o investimento resultará mais geograficamente distribuído – para não falar dos sistémicos desafios jurídico-políticos que a China acrescidamente imporá…

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