O cartoon
que me chegou via post do Fernando
Carvalho no Facebook ilustra bem
algumas das minhas dúvidas sobre o que se vai passando na zona euro e União
Europeia e sobre o que se vai abatendo sobre nós como consequência direta desse
outro nível de problemas. Aparentemente, estamos perante verdadeiros “ceguinhos
políticos”, vagueando ao sabor da desorientação na condução de todo o processo.
Mas essa desorientação pode ser também o produto de uma simples incompetência. As
vendas oculares representariam neste caso o resultado da incompetência na
procura das soluções mais consistentes. Mas hesito frequentemente. Não será
tudo isto uma encenação para fazer passar projetos bem mais ocultos, como por
exemplo a submissão do mais amplo espírito europeu a uma simples lógica de
globalização financeira e de mercado único a todo o custo? Mas há também a
possibilidade do curto prazo político (no horizonte as eleições alemãs, outros
casos virão) se sobrepor a tudo o resto, que também é uma forma de destruição
do projeto europeu ao sabor das flutuações e turbulências eleitorais.
O caso de Chipre e das diversas incidências e derivas
do seu default bancário são mais um
episódio em toda esta ópera bufa. O que espanta é que nos últimos dias ninguém
já fala de União Bancária. E o que também espanta é como a situação do sistema
financeiro de Chipre, potencialmente explosiva segundo todos os critérios de
supervisão prudencial, vou evoluindo sem que ninguém de bom senso regulador
tenha colocado entraves à sua aterragem anunciada. O problema é complexo e
exige análise ponderada. Continua obscura a questão de saber se a ideia de
taxar os depósitos inferiores a 100.000€ veio de facto do governo cipriota ou
se, pelo contrário, foi insidiosamente introduzida na negociação sabe-se lá por
quem. O ministro alemão Schäuble apressou-se a comunicar que a Alemanha não
teve nada a ver com a decisão, mas a dúvida pairou.
Martin Wolf tem um artigo no Financial Times que merece ponderação, sobretudo pela perspetiva
desassombrada com que analisa o problema. Wolf não ignora a inevitabilidade da
reestruturação do sistema bancário cipriota, mas põe o dedo na ferida quando
refere que uma União Bancária mais avançada poderia perfeitamente assumir a
recapitalização direta desse sistema. O que parece ter sido asneira e da grossa
é o facto de se ter quebrado a barreira de penalizar depósitos seguros. Tudo
isto misturado, vem de novo ao de cima que a fragilidade do sistema bancário
continua a perturbar toda a estabilidade possível da zona euro. Cai por isso
por terra a peregrina ideia de que será o pacto orçamental a assegurar a
ambicionada estabilidade que a fragilidade bancária teima em contrariar.
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