A chuva que tem caído impiedosa deu finalmente tréguas
cá por cima e pode ser que as aleluias aguentem, impedindo o seu
desaparecimento precoce que precipitaria a efemeridade da sua presença.
Com este contexto e com tempo para a leitura, só
perturbado pela conclusão de um paper
sobre a fragmentação do pretensamente binário ensino superior para um encontro
da APDR em Évora no dia 3 de abril e com pedaços de trabalho profissional que é
necessário concluir, deu para bem caracterizar as dúvidas que atravessam toda a
imprensa neste interregno de Páscoa.
Suspensos da decisão do Tribunal Constitucional e
ainda com os efeitos colaterais do regresso de Sócrates (dois anos depois, o país
parece não ter mudado pois a polarização é a mesma em torno da personalidade),
há dúvidas bem mais importantes que devem merecer a atenção dos portugueses.
Tal como já havia aqui assinalado, os ziguezagues
em torno do resgate cipriota mostram que a União Bancária é um nado-morto e que
as decisões dos sucessivos Conselhos Europeus, independentemente de serem ou tomadas
em condições de pressão negocial. Paul de Grauwe diz mesmo que ela está morta
antes de nascer, pois os países europeus não manifestam vontade de partilhar os
custos de uma crise bancária. Por isso, as decisões dos Conselhos Europeus não
são para levar a sério.
Num plano mais interno mas com conexões evidentes
com o que pode ser inferido a partir do marco de Chipre, parece assumir cada
vez mais força a dúvida “ficar ou sair do euro”. O anúncio do novo livro de João
Ferreira do Amaral, o único economista em Portugal com moral e fundamento para
falar de uma saída do euro, vem repor e centrar o debate. E a sensação que fica
é que quanto mais conhecemos alguns farsolas da construção europeia a tese de
Ferreira do Amaral ganha consistência, pois os custos, ainda incalculáveis de uma
saída do euro, começam a ser confrontados com os custos da solução alternativa,
em acumulação vertiginosa e sem data à vista para uma desaceleração do seu
crescimento. Por mais indeterminados que os primeiros se apresentem e por mais
indeterminada que seja a emergência de uma solução programadas para essa saída,
a verdade é que os custos de permanecer são cada vez mais palpáveis. Ora, a
dimensão dos custos imediatamente percetíveis conta sempre mais do que a
indeterminação dos custos futuros sem benefícios à vista.
Rui Ramos, na sua crónica do Expresso, parece
associar a nossa permanência no euro como o “último capítulo da tentativa histórica
de reconstituir Portugal à imagem do noroeste da Europa”. Mas que noroeste?
Dúvidas de Páscoa! Não propriamente metafísicas
ou religiosas. Bem prosaicas e que marcarão qualquer que seja a decisão do
Tribunal Constitucional os próximos tempos.
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