segunda-feira, 11 de março de 2013

GOOGLE SOB PRESSÃO



Para a maioria dos mortais, leiga na(s) matéria(s), ao espanto associado à “revolução da Internet” sucedeu o encanto decorrente da sub-revolução associada ao lançamento em 1998 do motor de buscas Google e subsequentes. E não me refiro apenas à enorme complexidade das competências tecnológicas envolvidas, mas também ao crescente hermetismo dos modelos de negócio assim potenciados (em 2012, a Google teve um resultado líquido próximo de 11 mil milhões de dólares, movimentou mais de 50 mil milhões e faturou cerca de 44 mil milhões em publicidade).
 
Mas uma coisa sempre me pareceu óbvia: que é no plano da mudança disruptiva que nos situamos quando observamos e convivemos com tais fenómenos. E, assim sendo, que estamos apenas no dealbar de uma era das sociedades humanas que já não iremos conhecer e que hoje ainda só podemos explorar numa lógica de “cultura prêt-à-porter” ou em espreitadelas mais ou menos ficcionadas – tâtonnements, usando a propósito uma palavra francesa de que gosto especialmente.
 
Pois as recentes notícias em torno de queixas e investigações europeias em relação à empresa americana fundada por Larry Page e Sergey Brin vieram reforçar assinalavelmente essa ideia. Tanto é o que está em jogo: a consolidação de uma economia digital, a regulação das suas práticas e respetiva harmonização global, a defesa dos direitos fundamentais de cidadãos e consumidores, as políticas de defesa da propriedade intelectual e de proteção de dados, a sua umbilical relação com o advento de uma sociedade do conhecimento.
 
Indo a factos, o mais visível foi o recente acordo assinado, com o alto patrocínio de François Hollande, entre o chairman da Google (Eric Schmidt) e o governo francês. Nos termos do mesmo, a Google pagará 60 milhões de euros a um fundo visando contribuir para o desenvolvimento da presença na Web da imprensa francesa. Com Hollande a declarar que “é precisa uma aliança entre os produtores de conteúdos e os seus difusores” e Schmidt a sublinhar ser de longe preferível um acordo a uma lei e a referir-se a um “acordo histórico”.
 
Mas nada parece fazer crer que esta resistência “pacífica” da Google no sentido de procurar protelar ao máximo uma afetação substancial do seu core business possa ser duradoura e suscetível de imperar no futuro. Primeiro, porque a agressividade e a contestação concorrencial se mostram crescentes (Microsoft à cabeça); segundo, porque está em curso na Alemanha um processo legislativo que seguramente se saldará por um tratamento “copyright extensivo” e conducente à possibilidade de introdução de fees de licenciamento por parte dos editores; terceiro, porque a Comissão Europeia tem vindo a endurecer o seu posicionamento – também porque a Google detém uma posição de 90% das buscas realizadas no espaço europeu –, havendo já rumores de multas passíveis de serem aplicadas até 2% do volume de negócios anual global (o que significaria um valor em torno de 760 milhões para o caso da Google, de acordo com os seus dados de 2011); por fim, porque a legitimamente ambiciosa estratégia empresarial dos responsáveis da Google (evolução para um knowledge engine) a tenderá a tornar um alvo ainda mais apetecível.
 
Entretanto, e enquanto as coisas vão marinando, googlemos irmãos…

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