Um muito esclarecedor artigo de Isabel Arriaga e
Cunha, correspondente do Público em Bruxelas, sobre os meandros da estapafúrdia
e precipitada decisão que conduziram ao abalo cipriota: “Afinal, o que
aconteceu na madrugada de sábado?”.
Na verdade, com a posição já há alguns dias
assumida pelo BCE de não aceitar dívida pública cipriota como reserva colateral
de ajudas à liquidez e conhecida que era também há muito tempo a natureza explosiva
da capitalização do sistema financeiro daquele país, espanta (e o problema é
que começa a não espantar) como é que uma decisão com tamanha envergadura não
vinha sendo preparada há mais tempo.
O artigo de Isabel Arriaga e Cunha tem o mérito
de a partir de Bruxelas penetrar um pouco na antecâmara insondável de tão
obtusa decisão. E o que é mais surpreendente é que, com toda a gente a tirar a água
do capote quanto à ideia de taxar os depósitos inferiores a 100.000€, a fava
parece ter ficado para a Comissão Europeia, que lá foi confessando ter tido a
iniciativa de fazer a primeira proposta quanto à taxação daqueles depósitos,
embora “apenas” (?) com uma taxa mínima de 3%. Mas não é a Comissão Europeia
que tem a responsabilidade de fazer avançar a União Bancária? (ainda alguém se
lembra desta?). Fica entretanto por explicar como é que a decisão final
produziu ameaça tão sonante ao princípio da segurança de depósitos abaixo desse
valor. Mas a situação do Chipre era assim tão desconhecida quando se produz a
integração na zona euro? Mas será que tais iluminárias não pensaram em toda a
agitação contagiante que tal medida poderia determinar? Para ajudar à festa, o
ministro do Tesouro luxemburguês levanta a hipótese do atual Presidente do Euro
Grupo, o holandês Dijsselbloem, não ter a experiência de Jean Claude Junker e
poder ele próprio ter tomado tal decisão de ânimo leve.
Quando mais se pica este chão mais instável ele
se apresenta.
Há espaço para mais um bloco temático neste
blogue: gente que não pode ser convidada para nossas casas … pois não são de
confiança.
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