quinta-feira, 21 de março de 2013

NÃO SE PODE CONVIDAR GENTE DESTA …



Um muito esclarecedor artigo de Isabel Arriaga e Cunha, correspondente do Público em Bruxelas, sobre os meandros da estapafúrdia e precipitada decisão que conduziram ao abalo cipriota: “Afinal, o que aconteceu na madrugada de sábado?”.
Na verdade, com a posição já há alguns dias assumida pelo BCE de não aceitar dívida pública cipriota como reserva colateral de ajudas à liquidez e conhecida que era também há muito tempo a natureza explosiva da capitalização do sistema financeiro daquele país, espanta (e o problema é que começa a não espantar) como é que uma decisão com tamanha envergadura não vinha sendo preparada há mais tempo.
O artigo de Isabel Arriaga e Cunha tem o mérito de a partir de Bruxelas penetrar um pouco na antecâmara insondável de tão obtusa decisão. E o que é mais surpreendente é que, com toda a gente a tirar a água do capote quanto à ideia de taxar os depósitos inferiores a 100.000€, a fava parece ter ficado para a Comissão Europeia, que lá foi confessando ter tido a iniciativa de fazer a primeira proposta quanto à taxação daqueles depósitos, embora “apenas” (?) com uma taxa mínima de 3%. Mas não é a Comissão Europeia que tem a responsabilidade de fazer avançar a União Bancária? (ainda alguém se lembra desta?). Fica entretanto por explicar como é que a decisão final produziu ameaça tão sonante ao princípio da segurança de depósitos abaixo desse valor. Mas a situação do Chipre era assim tão desconhecida quando se produz a integração na zona euro? Mas será que tais iluminárias não pensaram em toda a agitação contagiante que tal medida poderia determinar? Para ajudar à festa, o ministro do Tesouro luxemburguês levanta a hipótese do atual Presidente do Euro Grupo, o holandês Dijsselbloem, não ter a experiência de Jean Claude Junker e poder ele próprio ter tomado tal decisão de ânimo leve.
Quando mais se pica este chão mais instável ele se apresenta.
Há espaço para mais um bloco temático neste blogue: gente que não pode ser convidada para nossas casas … pois não são de confiança.

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