quinta-feira, 21 de março de 2013

A AUSTERIDADE DA INTELIGÊNCIA


A imprensa pegou, e bem, em algumas afirmações sonantes de Carlos Costa em conferência na SEDES. Como as suas elaborações em torno de como deve ser implementada a política macroeconómica em Portugal, desde logo no período de transição subsequente à saída da Troika e, depois, quando o País se puder financiar exclusivamente nos mercados – com destaque para a ideia da adoção de um “Programa Cautelar”, que asseguraria o regresso do País aos mercados de forma apoiada pelas autoridades europeias, e para a defesa de um “Quadro Orçamental Plurianual” suportado pelo estabelecimento de um “Pacto de Regime” e de um “Pacto Social”.
 
O Governador deixou ainda um alerta que merece séria reflexão: “Admitindo hipóteses para o crescimento do PIB nominal e para a taxa de juro da dívida de cerca de 4% por ano (em ambos os casos), a diminuição do rácio da dívida para o valor de referência [de 60% do PIB] requer excedentes orçamentais primários de cerca de 2% do PIB, por ano, durante 20 anos”, ou seja, “um esforço de consolidação orçamental sem precedente na história recente da economia portuguesa”.
 
Mas houve um outro contributo muito relevante, e menos sublinhado publicamente, na análise do Governador. Em reprodução de um excerto oral: “No final de 2012, o rácio da dívida pública bruta situava-se 11 pontos percentuais acima do previsto na versão inicial do programa. Isto generalizou a ideia de que estamos a fazer um esforço e, afinal, o nosso rácio da dívida está a aumentar. O que é que explica isto? Ora, cerca de 3 pontos percentuais deste desvio são explicados pelo efeito direto da evolução mais desfavorável do que o previsto do produto nominal – é o chamado ‘efeito denominador’, são os tais ventos laterais que o skipper tem que, obviamente, controlar. E em mais de 6 pontos percentuais resultam de um conjunto de operações com impacto direto na dívida pública que assumiram uma expressão muito mais significativa do que o previsto – (…) estas operações estão fundamentalmente associadas às operações de capitalização do setor bancário (…) e devem-se também à regularização de situações passadas e não reconhecidas.”
 
À saída, e respondendo a uma questão jornalística, o Governador foi assertivo na sua deliberada ambiguidade: “Como Governador, a única coisa que tenho de saber é o que é desejável. E também espero que o desejável seja possível. E, depois, compreender que o possível, às vezes, é necessário porque é imperioso, porque é inevitável.” Aposto, singelo contra dobrado, que ainda vamos precisar muito de Carlos Costa…

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