O debate económico Europa versus Estados Unidos da América
está ao rubro. Estou a ser simpático para os Europeus, pois para haver um
debate são necessárias duas partes e neste caso só os economistas americanos
levam a sério o confronto das ideias no plano económico.
Nesta semana, alguns tweeters com epicentro na Comissão Europeia resolveram atirar-se ao criticismo com que
Krugman tem tratado, e com toda a pertinência acrescento eu, interpretando-o como uma crítica à Europa. Tal qual virgens ofendidas, pressinto
que associadas à corte do inenarrável Olli Rehn, estas vozes identificadas com
a Comissão Europeia não participam de facto no debate, limitam-se no fundo tal
como o patrono ou apaniguado Rehn a dizer que o debate não é construtivo para a
estabilidade do euro e da União Europeia. Mas de virgens ou princesas esta
gente não tem rigorosamente nada. É gente sabida, “putas velhas” dirão alguns,
não necessariamente velhas por idade, mas porque se acomodaram e especializaram
há muito em defender posições e não a debater ideias.
Ora o que neste momento acontece é que esta gente não tem
argumentos para contrariar a urgente necessidade de estímulos fiscais e não do
prolongamento de vias de austeridade tout
court em ambiente depressivo de taxas de juro como defendem. O argumento de
que a emissão alargada de dívida colocaria as taxas de juro a longo prazo sob
pressão caiu entretanto por terra. Essa pressão é uma miragem. Do mesmo modo, a
situação americana evidencia com clareza que o estímulo fiscal americano não
determinou o colapso das cotações em bolsa, antes pelo contrário, Wall Street
está a bater limites superiores dos últimos tempos.
O ambiente de incerteza que pesa sobre as condições de
investimento na Europa está cada vez mais claramente associado à incerteza de
procura que atravessa praticamente toda a zona euro e é isso que os altos
funcionários não querem aceitar. Afinal são as suas próprias receitas que estão
a conduzir o ambiente de incerteza, prolongando-o no tempo, sem que a
austeridade punitiva contribua para a diminuir.
Bradford DeLong dedica hoje a este tema um excelente post mostrando bem como a posição dos
economistas americanos é no debate, ou algo que o pareça, mais robusta e
consistente. Krugman, contundente como sempre, ataca forte, distinguindo
subtilmente entre “cockroach ideas”
(ideias baratas que se pretendem afastar mas que voltam sempre e que emergem
por não se terem em conta factos essenciais) e “zombie ideas” (ideias defendidas por quem se recusa a integrar a
evidência). A distinção é demasiado subtil e duvido mesmo se o que predomina na
Comissão não são as primeiras (opinião de Krugman) mas antes as segundas.
A contundência é preciosa:
“O mais espantoso é que os homens que não conhecem nem a teoria nem a história
das passadas crises estão profundamente convencidos que sabem o que fazer na
crise atual e que a confiança naquilo que prescrevem não é abalada pela
confirmação do erro em que estão envolvidos. E evidentemente o que é mais
espantoso é o facto de que são estes homens que estão hoje à frente das coisas”
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