Revista 2 do “Público” de domingo: a
fotografia de Miguel Manso é magnífica, a ideia da reportagem (ir perguntar “que
ideia tem para o país?” a portugueses espalhados pelos 18 distritos) não deixa
de ser meritória e o desenvolvimento final do trabalho pela jornalista Andreia
Sanches resulta agradável e enquadrada por um título bem esgalhado (“neste país
não temos livro de elogios”).
Mas de boas intenções, como esta de pretender
puxar pelo astral dos nossos acabrunhados e queixosos compatriotas, está o
inferno cheio e este país não parece estar de todo afim delas. Para o comprovar
sem qualquer apelo ou agravo bastaria circular um pouco, durante o dia de hoje,
pelas ruas, pelos transportes e pelos cafés das nossas cidades – embora a minha
amostra, confesso-o, se tenha limitado ao Porto.
Três chamadas de capa de três jornais do
dia ajudam a adjetivar a minha observação, aliás bem cabisbaixa. Os mais
imediatistas (ou desesperados?) comentavam incrédulos (ou perplexos?) a exigência
de mais cortes por parte da Troika, conforme alusão do CM. Os mais subtis (ou
sagazes?) mostravam estranheza (ou indignação?) em relação aos 15 excessivos
anos para pagar a dívida com que Gaspar agora veio descolar da Irlanda, segundo
o JN. Os mais informados (ou desinformados?) não escondiam o seu pasmo (ou
embasbacamento?) perante a expectativa governamental de uma dívida pública
sustentável só lá para 2040, a fazer fé no DE. Sendo ainda que alguns
portuenses sobrantes também iam condimentando a conversa com vernáculo
linguístico muito próprio e devidamente ajustado à ocasião…
E depois, além de tudo o mais, é essa
humilhação que sentimos, ora assistindo às exibições de arrogância com que nos
brindam os homens da mala que nos visitam ora presenciando as exibições de
subserviência com que nos assombram os que dizem representar-nos. Porque nada é
mais violento para um povo digno do que pretenderem “dobrar-lhe a espinha”. Porque
nada é mais evidente para um povo lúcido do que a distinção entre o erro e a deslealdade.
Porque nada é mais afrontoso para um povo livre do que a traição, maxime quando disfarçada por mesclas malandras
de incompetência e puerilidade.
Há assim por aí demasiada revolta à
solta – será ela ainda passível de ser federada em direções coletivamente úteis
ou será simplesmente que, parafraseando o grande Tim Maia, “este país não pode
dar certo”?
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