quinta-feira, 7 de março de 2013

ESTE PAÍS NÃO PODE DAR CERTO?

 
Revista 2 do “Público” de domingo: a fotografia de Miguel Manso é magnífica, a ideia da reportagem (ir perguntar “que ideia tem para o país?” a portugueses espalhados pelos 18 distritos) não deixa de ser meritória e o desenvolvimento final do trabalho pela jornalista Andreia Sanches resulta agradável e enquadrada por um título bem esgalhado (“neste país não temos livro de elogios”).
 
Mas de boas intenções, como esta de pretender puxar pelo astral dos nossos acabrunhados e queixosos compatriotas, está o inferno cheio e este país não parece estar de todo afim delas. Para o comprovar sem qualquer apelo ou agravo bastaria circular um pouco, durante o dia de hoje, pelas ruas, pelos transportes e pelos cafés das nossas cidades – embora a minha amostra, confesso-o, se tenha limitado ao Porto.
 
Três chamadas de capa de três jornais do dia ajudam a adjetivar a minha observação, aliás bem cabisbaixa. Os mais imediatistas (ou desesperados?) comentavam incrédulos (ou perplexos?) a exigência de mais cortes por parte da Troika, conforme alusão do CM. Os mais subtis (ou sagazes?) mostravam estranheza (ou indignação?) em relação aos 15 excessivos anos para pagar a dívida com que Gaspar agora veio descolar da Irlanda, segundo o JN. Os mais informados (ou desinformados?) não escondiam o seu pasmo (ou embasbacamento?) perante a expectativa governamental de uma dívida pública sustentável só lá para 2040, a fazer fé no DE. Sendo ainda que alguns portuenses sobrantes também iam condimentando a conversa com vernáculo linguístico muito próprio e devidamente ajustado à ocasião…
 
 
E depois, além de tudo o mais, é essa humilhação que sentimos, ora assistindo às exibições de arrogância com que nos brindam os homens da mala que nos visitam ora presenciando as exibições de subserviência com que nos assombram os que dizem representar-nos. Porque nada é mais violento para um povo digno do que pretenderem “dobrar-lhe a espinha”. Porque nada é mais evidente para um povo lúcido do que a distinção entre o erro e a deslealdade. Porque nada é mais afrontoso para um povo livre do que a traição, maxime quando disfarçada por mesclas malandras de incompetência e puerilidade.
 
Há assim por aí demasiada revolta à solta – será ela ainda passível de ser federada em direções coletivamente úteis ou será simplesmente que, parafraseando o grande Tim Maia, “este país não pode dar certo”?

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