O CONVERSABLE ECONOMIST é bem a imagem do seu promotor, o economista Timothy
Taylor, um blogue sereno, incisivo, despertando-nos permanentemente para evidências
empíricas e resultados de investigação que nos ajudam a compreender melhor o
que nos rodeia, economicamente falando. Tim Taylor já foi editor-chefe de uma
revista de referência entre pares, o Journal of
Economic Perspectives e isso basta em minha opinião para lhe
dedicarmos atenção.
Em linha com o interesse que
o tema da desigualdade tem assumido no debate económico atual, muito em função
do forte impacto que a obra de um francês, pasme-se, Thomas Picketty, Le Capital au XXIe siècle, está a provocar
nos Estados Unidos (e que estou presentemente a ler em francês as suas 969 páginas, em
homenagem à lança nos EUA do autor), Tim Taylor traz para o centro do debate a
desigualdade na América Latina.
O tema é relevante pois,
quando no meu curso de Globalização e
Desenvolvimento Económico na FEP, discutia a desigualdade no contexto
dos avanços da globalização, a América Latina era regra geral apontada como o
centro das evidências do crescimento económico pouco distributivo, ao qual só a
Africa do Sul disputava os índices de maior desigualdade. Mas a chegada ao
poder em alguns países como o Brasil de projetos políticos mais empenhados na
redistribuição dos efeitos do crescimento económico emergente (a passagem de
Lula da Silva pelo poder é incontornável neste aspeto). É por isso relevante
avaliar que impactos reais tiveram esses projetos políticos de gestão dos
efeitos do crescimento económico. Tim Taylor fá-lo trazendo para a discussão um
estudo recente do Banco Mundial, Social Gains in the Balance – a Fiscal Policy Challenge for the Latin America & Caribbean,
datado de fevereiro de 2014.
O gráfico que abre este post sugere que algo mudou no
crescimento económico latino-americano. O gráfico utiliza um indicador muito
simples, bastante do meu agrado, que compara as taxas de crescimento económico
global dos países e do rendimento dos 40% mais pobres. Salvo raríssimas exceções,
o rendimento dos 40% mais pobres cresceu no período em análise a uma taxa
superior à que os países cresceram. Este resultado sugere que o crescimento
económico tem conseguido efeitos distributivos, em meu entender sobretudo através
da capacidade de criar emprego. Em coerência com esse resultado, a relação
entre crescimento económico, redução da pobreza e melhoria das condições da
classe média surge claramente evidenciada no estudo do Banco Mundial. Isto
mostra a relevância do conteúdo do crescimento e contrasta bem com a situação
infligida aos países da Europa do Sul (ver gráfico abaixo).
Mas o que é curioso e Tim
Taylor acentua esse facto com mestria, é que quando comparamos a desigualdade
antes e depois das políticas fiscais a América Latina é bem menos
redistributiva do que o universo de países da OCDE. Quer isto significar que a
política fiscal não consegue resultados apreciáveis em matéria de melhoria da
desigualdade, o que não deixa de refletir as condições do exercício do poder
nesses países. Estruturalmente, o Estado nunca conseguiu libertar-se de grupos
de interesses que o modelo de desenvolvimento socioeconómico latino-americano
gerou historicamente, sobretudo a partir da transição do seu modelo primário-exportador
e dos longos períodos de protecionismo industrial em que laborou. Por isso, Tim
Taylor conclui que as políticas públicas nesses países, sobretudo a política
fiscal, fizeram bem pouco para conseguir níveis mais acentuados de redução da
desigualdade. Não deixa de ser irónico concluir que é mais o conteúdo do
crescimento económico e menos a política fiscal a conseguir alguns resultados de
redistribuição dos efeitos do crescimento económico, apesar da passagem de Lula
da Silva e outros pelo poder.
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