quarta-feira, 2 de abril de 2014

ECONOMIA(S)


De vez em quando os economistas deste blogue apontam aqui o seu dedo acusador a alguns malefícios que crescentemente se apoderaram da sua área científica, como os de um mainstream ortodoxo ou de uma tendência para o pensamento único, de um economicismo redutor ou de uma ausência de fertilização interdisciplinar, de um matematismo doentio ou de uma modelização acéfala.

Em países como o nosso, este é um problema tanto mais grave quanto o ensino e a investigação em Economia a pouco ou quase nenhum paralelo podem aspirar – financeiramente, organizacionalmente, concorrencialmente... – com os dos países liderantes à escala internacional na matéria (Estados Unidos, muito em especial), por um lado, e quanto a nossa condição intermédia em termos de desenvolvimento claramente justificaria o reconhecimento da relevância de outros focos – social, institucional, empresarial – para efeitos de carreira académica/profissional, por outro.

Mas o problema é generalizado e estende-se a outras realidades, incluindo muitas dotadas de níveis de riqueza largamente superiores ao nosso. Veja-se, p.e., como o “Le Monde” de hoje dá conta do protesto que presentemente acontece em França a este mesmo propósito – sob o sugestivo título “Profs. de economia: neoclássicos 1 – heterodoxos 0” –, com umas centenas de universitários pertencentes à Associação Francesa de Economia Política a queixarem-se de falta de pluralismo na contratação e no ensino e um fundamento assente na avassaladora supremacia (84,2%) dos economistas de formação matemática recrutados pelas suas universidades entre 2000 e 2011.

Moral da história: na ausência de uma reflexão séria sobre este tema, e das correspondentes e corajosas decisões dela necessariamente resultantes, nós cá vamos “cantando e rindo” neste fosso cada vez mais intransponível que se vai cavando entre os senhores professores doutores que sabem quase tudo de quase nada e os senhores ministros que enchem a boca de apelos e exigências bem sonantes em torno de uma obrigatória colaboração entre a universidade e as empresas. E empobrecendo, claro…

(Tucker Nichols, http://www.nytimes.com)

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