quinta-feira, 10 de abril de 2014

FOLLOW-UP DA ECONOMIA AMERICANA



Já fui bem mais cético sobre esta matéria, mas tenho hoje para mim que a evolução recente da economia americana tem sido uma fonte inesgotável de enriquecimento do debate económico, sobretudo porque a academia americana mantém com a comunicação de ideias uma relação bastante mais saudável do que os ratinhos produtores de papers que por cá abundam.
Por isso, o follow-up da economia americana tem sido uma opção regular deste blogue. E não me arrependo dessa opção, sobretudo se conseguirmos manter uma visão comparativa com as maleitas europeias e o sentido da economia mundial em que estamos mergulhados.
Ora, nos últimos dias, o surgimento de análises relevantes sobre as evoluções mais recentes da economia americana merece alguma referência.
Comecemos por uma importante conferência de Christina Romer realizada esta semana na Gerald Ford School of Public Policy da Universidade de Michigan, sob o título The Aftermath of Financial Crisis Doesn’tHave to be That Bad, por agora apenas em vídeo, e que anuncia grossa polémica com a investigação de Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart. Pelo que pude ouvir até agora, Christina Romer parece querer contrariar a investigação de Rogoff e Reinhart que estudaram o pós-crises financeiras num período temporal bastante alargado, concluindo até, imaginem, que praticamente nenhum caso foi saldado sem renegociação ou reestruturação da dívida. Christina Romer é uma voz autorizadíssima na política monetária das grandes recessões e crises financeiras pelo que o acompanhamento desta questão será vital para a riqueza do debate.
Uma outra matéria incontornável é a perspetiva de alguma recuperação vivida no mercado de trabalho americano, sobretudo depois do mês de março de 2014 ter trazido a criação de 192.000 novos empregos, perfazendo no 1º trimestre uma média de 178.000 novos empregos, embora sem alteração da taxa de desemprego em 6,7%. O rácio “Emprego/População” atinge agora o ponto mais alto da fase de recuperação, embora ainda abaixo do valor pré-crise em cerca de 4 pontos percentuais. Os resultados não são de espantar, mas pelo menos o 1º trimestre de 2014, com o aumento da duração média semanal do trabalho, vem contrariar a tese republicana de que o Affordable Care Act de Obama tenderia a reduzir (estes republicanos são impagáveis!) o tempo de trabalho.
O gráfico que abre este post analisa a evolução do emprego entre 2006 e 2014, evidenciando a claríssima diferença do setor da saúde, embora em desaceleração recente, e mostra à evidência como é um pouco utópica a ambição de reindustrialização americana, que apresenta um nível de emprego bastante inferior ao de 2006 e muito recentemente com perdas líquidas de emprego.
Seth Carpenter, quadro superior do departamento de macroeconomia do Tesouro americano, anuncia-nos que também esta semana o Senado americano aprovou a retoma do apoio extraordinário em matéria de subsídio de desemprego, no quadro de um seguro de desemprego de longa duração. O quadro abaixo evidencia a relevância progressiva deste apoio e dá conta do volume crescente de desempregados que seriam privados de qualquer apoio social ao desemprego sem o seguro de desemprego de longa duração. É muito interessante a constatação de que a distribuição ocupacional do desemprego de longa duração e do desemprego de curto prazo é praticamente a mesma, evidenciando tratar-se de um fenómeno de incidência generalizada em toda a economia.
Temas relevantes que o não são menos simplesmente por acontecerem do outro lado do Atlântico.

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