Já fui bem mais cético sobre
esta matéria, mas tenho hoje para mim que a evolução recente da economia
americana tem sido uma fonte inesgotável de enriquecimento do debate económico,
sobretudo porque a academia americana mantém com a comunicação de ideias uma
relação bastante mais saudável do que os ratinhos produtores de papers que por cá abundam.
Por isso, o follow-up da economia americana tem sido
uma opção regular deste blogue. E não me arrependo dessa opção, sobretudo se
conseguirmos manter uma visão comparativa com as maleitas europeias e o sentido
da economia mundial em que estamos mergulhados.
Ora, nos últimos dias, o
surgimento de análises relevantes sobre as evoluções mais recentes da economia
americana merece alguma referência.
Comecemos por uma importante
conferência de Christina Romer realizada esta semana na Gerald Ford School of Public Policy da Universidade de Michigan,
sob o título The Aftermath of Financial Crisis Doesn’tHave to be That Bad, por agora apenas em vídeo, e que anuncia
grossa polémica com a investigação de Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart. Pelo
que pude ouvir até agora, Christina Romer parece querer contrariar a
investigação de Rogoff e Reinhart que estudaram o pós-crises financeiras num
período temporal bastante alargado, concluindo até, imaginem, que praticamente
nenhum caso foi saldado sem renegociação ou reestruturação da dívida. Christina
Romer é uma voz autorizadíssima na política monetária das grandes recessões e crises
financeiras pelo que o acompanhamento desta questão será vital para a riqueza
do debate.
Uma outra matéria
incontornável é a perspetiva de alguma recuperação vivida no mercado de
trabalho americano, sobretudo depois do mês de março de 2014 ter trazido a
criação de 192.000 novos empregos, perfazendo no 1º trimestre uma média de
178.000 novos empregos, embora sem alteração da taxa de desemprego em 6,7%. O
rácio “Emprego/População” atinge agora o ponto mais alto da fase de
recuperação, embora ainda abaixo do valor pré-crise em cerca de 4 pontos
percentuais. Os resultados não são de espantar, mas pelo menos o 1º trimestre
de 2014, com o aumento da duração média semanal do trabalho, vem contrariar a
tese republicana de que o Affordable Care Act de Obama tenderia a
reduzir (estes republicanos são impagáveis!) o tempo de trabalho.
O gráfico que abre este post
analisa a evolução do emprego entre 2006 e 2014, evidenciando a claríssima
diferença do setor da saúde, embora em desaceleração recente, e mostra à evidência
como é um pouco utópica a ambição de reindustrialização americana, que
apresenta um nível de emprego bastante inferior ao de 2006 e muito recentemente
com perdas líquidas de emprego.
Seth Carpenter, quadro
superior do departamento de macroeconomia do Tesouro americano, anuncia-nos que
também esta semana o Senado americano aprovou a retoma do apoio extraordinário
em matéria de subsídio de desemprego, no quadro de um seguro de desemprego de
longa duração. O quadro abaixo evidencia a relevância progressiva deste apoio e
dá conta do volume crescente de desempregados que seriam privados de qualquer
apoio social ao desemprego sem o seguro de desemprego de longa duração. É muito
interessante a constatação de que a distribuição ocupacional do desemprego de
longa duração e do desemprego de curto prazo é praticamente a mesma,
evidenciando tratar-se de um fenómeno de incidência generalizada em toda a
economia.
Temas relevantes que o não
são menos simplesmente por acontecerem do outro lado do Atlântico.
Sem comentários:
Enviar um comentário