Nos últimos tempos daria jeito ter um pequeno
monte ou pequena habitação pelas bandas do Alentejo, pois já são muitas as
presenças públicas naquele território.
Desta vez a convite do José Carlos Albino, um
ator e dinamizador local de grande experiência e capacidade de iniciativa para
a sessão inaugural das Conferências de Aljustrel, focadas no tema Cidadania, Inovação
e Território. Tema a tratar na sessão inaugural, O Modelo de
Desenvolvimento e a Questão Territorial. Companheiros de sessão,
moderados pelo jornalista Jorge Barrigas, o geógrafo Professor Jorge Malheiros
que certamente tratará a questão do declínio demográfico e, nada mais, nada
menos do José Pacheco Pereira. Estou assim preparado para sentir na pele o
olhar implacável de Pacheco Pereira, mais ou menos similar ao que ele dirige
aos companheiros António Costa e António Lobo Xavier quando as ideias não lhe
agradam.
Tenho uma intervenção concebida em torno de três
ideias cruciais e a sua aplicação aos desígnios do Alentejo:
- Da encruzilhada ou precipício atuais à necessidade de respirar para pensar o modelo de desenvolvimento e o território;
- Inovação territorial ou territórios de inovação?
- As mais-valias do território são diferentes consoante as opções do modelo de desenvolvimento em Portugal.
A primeira ideia é talvez a mais controversa. Não
faz sentido a meu ver discutir o futuro dos territórios e das suas opções sem
que respiremos para o fazer. E respirar significa inverter a caminhada para o
precipício em que nos estão a mergulhar, na sequência do que agora designo de
tripla crise da economia e sociedade portuguesas:
- Crise do modelo de afetação de recursos, de financiamento, anemia do crescimento económico, mudança estrutural imposta pela adaptação à globalização;
- Crise financeira internacional, grande recessão internacional e recuperação anémica e titubeante;
- Desastrada (intencionalmente?) abordagem à crise das dívidas soberanas no edifício do euro não preparado para situações de stress.
O modelo em curso que não permite respirar para
pensar o território no quadro das opções para Portugal caracteriza-se por:
- Embaratecimento da força de trabalho e efeitos perversos dinâmicos de não inovação empresarial e baixos investimentos em educação por parte das famílias, indivíduos e empresas …
- Empobrecimento de largas franjas da população
- Agravamento de desigualdades
- País fraturado em múltiplas dimensões: os almofadados e os não almofadados; os novos e os velhos; os empreendedores e os não empreendedores e muitas mais que imaginação não falta ao processo.
Vou tentar demonstrar que neste modelo o Alentejo
pode esperar pouco, sobretudo porque lhe falta a massa crítica de força de
trabalho jovem. No modelo alternativo, pode ser um ativo:
- Continuidade imperiosa da melhoria de qualificações: melhorar fluxos para quebrar a inércia dos stocks.
- Mudança do perfil de especialização produtiva: mais do que setores novos, emergentes ou consolidados … capacidade de absorção de mais qualificações
- Inovação e conhecimento para responder ao estímulo da progressão salarial
- Escolhas públicas sensatas: almofadas sociais e libertação de recursos de investimento público para potenciar exclusivamente a transição.
Um ativo com duas dimensões:
- ALENTEJO TERRITÓRIO como fator de resiliência e de amortecimento à degradação das condições de vida … com longa experiência e sabedoria alicerçada na intervenção municipal e das associações de desenvolvimento local;
- ALENTEJO TERRITÓRIO como recurso e ativo ao serviço de um modelo de desenvolvimento que não frature o país, que valorize a melhoria das qualificações combatendo a inércia do stock, com o desafio de criar e atrair uma base produtiva que coexista amigavelmente e valorize as amenidades urbanas, ambientais, patrimoniais e culturais da Região e dê valor económico às ideias de que no Alentejo “o tempo é tudo” e que lá “é possível encontrar o tempo”.
Veremos o que é isto provoca.
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