Após a entrevista de Barroso
ao Expresso, o retrato que Correia de Campos realiza hoje do Presidente da
Comissão Europeia merece citação. Não se depreenda daqui que estou a tomar
posição por Vítor Constâncio visado no aspeto mais rocambolesco da entrevista. Não
ponho as minhas mãos no fogo pelas duas criaturas. Mas o retrato que Campos elabora
é bem certeiro:
“Gostaria de não ter que me referir ao
actual presidente da Comissão, o português Durão Barroso. O que tenho a dizer
custa-me. Votei nele em 2009, integrando uma maioria qualificada, ao lado dos
colegas de Espanha e da quase totalidade dos Portugueses. Cumpri orientações da
delegação, vindas de José Sócrates, contrárias às do grupo europeu dos
Socialistas e Democratas. Em circunstâncias normais deveria sentir orgulho por
ter um Português na presidência da Comissão. Infelizmente não me ocorre esse
sentimento. Uma gestão apagada que deixou a Comissão perder força e influência.
Um comportamento errático, mudando constantemente de opinião. Uma retórica
feita de compromissos e marcada pela cor do auditório, com vista a gerar
aplauso fácil, em qualquer circunstância. A negação imediata do que afirmara,
sempre que recolhia hostilidade dos grandes. Um comportamento de Pilatos,
quando as coisas corriam mal, atirando culpas para os Estados Membros. Uma
completa ausência de grandeza, sujeitando-se ao papel de marionete dos grandes,
parecendo aceitar a capitis diminutio como um facto normal para um originário
de pequeno-médio País. Em momento algum o orgulho de português subiu em mim e
em muitos momentos lamentei que um compatriota se prestasse ao que ele se
prestou. À pergunta do meu colega Rangel sobre se seria melhor termos um
presidente alemão respondo sim, sem pestanejar, ao menos saberíamos sempre com
que se contava. Na contabilidade de vantagens e inconvenientes ficam pequenos
ganhos de mercearia: alguns lugares de direcção ou de representação que vieram
parar a Portugal, na maioria esmagadora destinados a gente da direita. Um
acesso porventura mais fácil aos serviços da Comissão, por parte das
autoridades nacionais, usado e abusado já por este governo, a quem Durão teve
que ensinar tudo sobre os fundos, sobretudo na primeira fase. E pouco mais.”
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